Mais de 5000 empresas dependem a 100% de Angola para exportar

Do total de empresas portuguesas que vendem produtos para Angola, 56% apenas exportam para este mercado, deixando-as vulneráveis numa altura em que as importações estão a sofrer uma forte quebra.

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Este número, algo surpreendente, surge numa altura em que as importações angolanas de produtos portugueses estão a sofrer uma forte quebra, enquadrada pela crise económica que Angola está a atravessar devido ao baixo preço do petróleo. Além disso, soma-se ainda a ameaça dos atrasos nos pagamentos, mesmo quando se faz negócios.

A falta de diversificação e forte exposição ao mercado angolano de milhares de micro e pequenas e médias empresas torna-as vulneráveis, com ameaças à sua tesouraria. Para a economista-chefe do gabinete de estudos económicos e financeiros do BPI, estas empresas “provavelmente passarão por dificuldades sérias, por dois motivos; por um lado, as necessidades de importações de Angola tenderão a reduzir-se, por força do encolhimento e dos condicionantes que afectam a procura doméstica; por outro lado, a queda das receitas petrolíferas denominadas em dólares, reflecte-se em escassez da moeda e maior dificuldade em realizar pagamentos internacionais, pelo que haverá uma tendência para acumular atrasados”.

Até 5 de Junho, cerca de duas semanas após o seu lançamento, havia já 312 pedidos de adesão à linha de financiamento para aliviar a tesouraria das empresas que operam em Angola, lançada pelo Governo. O valor total dos pedidos de financiamento era de 121 milhões de euros (cerca de 20% do total disponível).

Os números do INE mostram ainda que há outras 660 empresas que dependem a 91% e 99% de Angola, a que se somam outras 522 com uma exposição de 76% a 90% (ver infografia). Entre Janeiro e Abril, o valor das exportações de bens para Angola caiu 24,4% (para 725 milhões) face a idêntico período de 2014. Ao mesmo tempo, no primeiro trimestre a China e a Coreia do Sul (embora neste último caso possa ter havido um efeito extraordinário) ultrapassaram Portugal como maior fornecedor externo de Angola.

Para Paula Carvalho, o impacto que estas empresas irão sofrer está dependente do seu grau de resiliência. Ou seja, tudo irá depender “da folga acumulada nos bons tempos e capacidade de a utilizar numa conjuntura desfavorável, mas que deverá ser temporária”.

Esta responsável destaca que os preços do petróleo estão a recuperar, “embora possam não voltar tão cedo aos patamares verificados antes do Verão de 2014”, e que “o movimento de diversificação da actividade económica (para actividades não relacionadas com o petróleo) em Angola deverá continuar, significando que o futuro e as perspectivas do país continuam positivos”.

Para algumas empresas, a alternativa às exportações poderá passar pela produção local, mas este é um caminho que demora a ser percorrido, e não está isento de percalços. Os últimos dados disponíveis dão conta de um arrefecimento de novos investimentos em Angola: nos primeiros sete meses do ano passado foram aplicados apenas 55,9 milhões (ver infografia).

Esta segunda-feira, o ministro da Economia, António Pires de Lima, vai assinar em Luanda um memorando de entendimento com o seu homólogo angolano, Abraão Gourgel, para lançar o observatório para o investimento entre os dois países. A ideia, conforme afirmou o ministro ao PÚBLICO, “é dar visibilidade aos vários projectos de investimento que existem” , embora tenha dito não esperar “milagres” com a sua criação. Na terça-feira terá lugar a realização do primeiro fórum empresarial Angola-Portugal.

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