Bloco acusa Passos de “mentir” e de criar, com o emprego, outro “mito urbano”

Na conferência onde foi discutido e aprovado o manifesto eleitoral do BE, a porta-voz Catarina Martins defendeu ainda limites nos leques salariais das empresas.

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Catarina Martins, porta-voz do Bloco de Esquerda Nuno Ferreira Santos

Realçando que os políticos respondem “pela vida das pessoas” e devem “chamar os nomes às coisas”, a responsável do BE insiste que, nos últimos anos, “foram cortados os rendimentos de quem menos tem”, “aumentou-se a taxa do IVA”, “o Governo apelou à emigração” e Pedro Passos Coelho “mente quando diz o contrário”. Catarina Martins refere a perda do rendimento social de inserção, do complemento solidário para idosos, do subsídio social de desemprego, e do subsídio de doença como exemplos de rendimentos cortados.

Na III Conferência Nacional do partido, onde foi aprovado o manifesto eleitoral com que o Bloco se vai apresentar às eleições legislativas, a porta-voz do BE disse que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, é uma “uma espécie de Alice no País das Maravilhas” quando atribui às palavras “um novo significado”. Em Coimbra, Catarina Martins apontou baterias a Passos Coelho nas questões da emigração, IVA e rendimentos dos mais pobres.

As soluções que o Bloco propõe passam, segundo a porta-voz, por “devolver rendimento a quem mais perdeu” e que “permitem uma economia com mais emprego”. Na conferência, ao longo do dia, a situação na Grécia foi alvo de referências recorrentes e a palavra mais associada foi “solidariedade”. Catarina Martins entende que a principal causa na Europa é “a luta pela dignidade das pessoas” e considera que “não há futuro se as pessoas ficarem para trás”.

Em relação às linhas programáticas, Catarina Martins entende que “o primeiro desafio do país é a criação de emprego” e que a criação de emprego por parte do Governo “é um mito urbano”. A porta-voz do BE classifica o programa de estágios promovido pelo governo de coligação como “uma máquina de exploração de pessoas”.

Ressalvando que não se opõe à ideia de estágio enquanto forma de integração no mercado de trabalho, Catarina Martins acusa o Estado de pagar “para que as empresas usem e descartem estagiários”. Uma das medidas propostas pelo Bloco no seu manifesto é o impedimento de as empresas se poderem candidatar a novos programas de estágios se não tiver integrado nos seus quadros pelo menos metade dos estagiários recebidos no programa anterior.

As políticas de austeridade, parcerias público-privadas e as privatizações voltaram a ser alvo de críticas durante a intervenção e a líder do BE voltou a acusar a coligação PSD/CDS de querer submeter o país a quatro anos de uma política que “não é em nada diferente da que fez até agora”. “Estamos na situação caricata em que a única força política que ainda não apresentou um programa foi a coligação”, analisou Catarina Martins, que referiu também que “Pedro Passos Coelho e Paulo Portas diziam que o seu programa era o programa da troika”, situação que acredita manter-se.

O Bloco de Esquerda quer colocar um limite “nos leques salariais dos altos quadros” das empresas. Para o partido, a diferença entre o vencimento dos administradores e os restantes salários deve ser menor. A porta-voz do BE, Catarina Martins defende, tal como o PÚBLICO tinha avançado, que a “remuneração global mais alta não pode ter uma disparidade tão grande em relação aos salários mais baixos”, defendendo que o país deve estudar um limite, com 12 meses como número indicativo. A dirigente citou um estudo que mostrava que, em média, em Portugal os altos quadros ganham 32 vezes mais num mês que os restantes funcionários da empresa. Em Espanha desigualdade salarial é de 15 vezes, no Reino Unido é de 14 e na Alemanha o número desce para 10.

“Alguém se lembra do Zeinal Bava? Esse alto quadro dos prémios que deitou abaixo uma empresa?”, questionou a responsável do Bloco, contrapondo o argumento, “que é sempre o mesmo”, que se os administradores “não tiverem altos salários, eles podem fugir e perdemos os melhores quadros”. Para Catarina Martins, as altas remunerações em Portugal “não têm nada a ver com o mérito”.

Catarina Martins enfatizou ainda medidas como a abolição dos exames no ensino básico, um “compromisso sério contra o ensino dual”, a exclusividade dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, 1% do PIB para a Cultura, a implementação de uma “revolução fiscal”, o acesso universal e gratuito às creches para incentivar a natalidade e um abatimento de 60% da dívida, com juros de 1,5% e pagamento entre 2022 e 2030.

Durante as intervenções, poucas foram as vozes dissonantes. O militante Carlos Caramujo afirmou que “a discussão programática [do manifesto] foi feita à pressa”. “Podíamos ter feito melhor, menos fechado, com mais tempo”, lamentou.

 

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