Empresários ocidentais em peso na Rússia porque "a vida continua"
Fórum de S. Petersburgo recebe também o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras.
Milhares de convidados, de presidentes executivos a políticos, discutem entre quinta-feira e sábado oportunidades para abrir ou expandir negócios no gigantesco mercado russo – os primeiros porque investiram fortunas nos últimos anos, antes da recente crise política entre a Rússia e o Ocidente, para lucrarem com o esperado enriquecimento da classe média russa; e os segundos por mil e uma razões.
Um dos políticos é o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que chegou quinta-feira à cidade natal de Vladimir Putin já depois do almoço, e que por lá vai ficar pelo menos até sexta-feira, dia em que vai reunir-se com o Presidente da Rússia à margem do fórum económico.
O facto de essa visita acontecer em dias de discussões importantes para o futuro da Grécia e da zona euro causa algum incómodo em Bruxelas, mas a Rússia apressou-se a garantir que ninguém vai falar sobre empréstimos ou outro tipo de ajuda financeira.
"Não houve pedidos" por parte da Grécia, disse à agência Reuters o vice-ministro das Finanças russo, Sergei Storchak, sublinhando que um eventual pedido de ajuda nem poderia ser satisfeito pela Rússia: "Não há recursos disponíveis para isso no nosso Orçamento."
Ainda antes de qualquer declaração conjunta de Putin e Tsipras, coube ao vice-ministro das Finanças da Rússia fazer uma leitura da visita do primeiro-ministro grego a S. Petersburgo, numa época particularmente sensível das relações entre Atenas e Bruxelas.
"Na minha opinião, a visita tem como objectivo encontrar projectos em conjunto e desenvolver as relações comerciais, e não resolver problemas orçamentais. As medidas necessárias para resolver os actuais problemas da Grécia são de uma escala tão grande que não podem ser resolvidos por um único país de forma isolada. Só o esforço conjunto de muitos países pode alcançar esse objectivo", disse Sergei Storchak, numa referência às negociações para o pagamento da dívida da Grécia, que têm deixado o país cada vez mais isolado e a acusar os seus parceiros europeus e o Fundo Monetário Internacional de estarem a "humilhar o povo grego".
Mas o encontro em S. Petersburgo é essencialmente económico – é conhecido como a resposta russa ao fórum de Davos, que junta todos os anos milhares de empresários, políticos e celebridades na Suíça.
No ano passado, o evento foi antecipado para Maio porque a Rússia estava a preparar-se para receber, em Junho, a reunião do G8 – o grupo das oito economias mais desenvolvidas do mundo. Devido à anexação da península da Crimeia, em Março, e do início do conflito no Leste da Ucrânia entre o exército local e as forças separatistas pró-russas, nenhum dos encontros correu como se esperava: a cimeira do G8 foi cancelada e a Rússia foi suspensa do grupo; e o fórum de S. Petersburgo teve menos participantes do que o habitual, depois de os governos dos EUA e de vários países europeus terem pressionado os presidentes das maiores empresas a deixarem Vladimir Putin de braço estendido.
Esta semana, os embaixadores da União Europeia (UE) recomendaram a extensão por mais seis meses das sanções em vigor contra a Rússia, até ao final de 2016 – uma recomendação que deverá ser confirmada segunda-feira pelos ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.
Ainda assim, este ano tudo voltou ao normal em S. Petersburgo, porque "a vida continua", disse ao jornal The Moscow Times o presidente da Câmara de Comércio Americana na Rússia, Alexis Rodzianko.
"As grandes empresas estão todas na Rússia, numa aposta a longo prazo, e têm de se manter em contacto com os seus clientes. O conselho passado em surdina é: 'Se tiverem de ir, vão; mas mantenham a discrição. Nada de poses para as fotografias, por favor'", disse o mesmo responsável.