Caixabank recua na OPA e repensa estratégia para a participação no BPI

Instituição catalã desistiu da oferta pública de aquisição que tinha lançado em fevereiro depois de a assembleia geral ter recusado a desblindagem dos estatutos.

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António Borges

A posição expressa pelo conselho de administração do Caixabank, que se reuniu esta quinta-feira em Barcelona, aconteceu no dia em que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) tinha decidido suspender a cotação do BPI na bolsa de Lisboa e pedira informação adicional ao banco catalão sobre o que pretendia fazer no banco liderado por Fernando Ulrich.

A hipótese de recuo na OPA era uma das que estavam em cima da mesa. Mas havia, no mercado, quem visse também a possibilidade de o Caixabank avançar com uma proposta de melhoria da contrapartida que era oferecida no âmbito da operação (1,329 euros por acção), que o próprio conselho de administração do BPI já tinha considerado ser insuficiente.

Mas a opção pelo abandono da OPA acabou por prevalecer. “O Caixabank informa que o seu conselho de administração decidiu apresentar à CMVM a sua desistência de registo da oferta de aquisição sobre as acções do BPI”, afirmava o banco catalão na nota que publicou, para depois afirmar que tal acontece depois de a assembleia geral do banco português ter recusado eliminar “a disposição estatutária” que “limita os direitos de voto [20%] que cada accionista pode emitir”.

O banco acrescenta que, “a partir deste momento, entrará numa fase de análise das alternativas estratégicas disponíveis no que diz respeito à sua participação no BPI”, que fica agora com os dois principais accionistas (Caixabank e Santoro, de Isabel dos Santos, com 18,9%) de costas voltadas.  

A investidora angolana, que nunca concordou com a OPA e conseguiu assegurar os votos que impediram a desblindagem, tem defendido uma solução para o BPI que passa pela fusão com o BCP para criar um líder de mercado em Portugal, algo que a gestão do Millennium, que tem a Sonangol como principal accionista, diz estar disponível para analisar.  

O que será a estratégia do Caixabank no banco português é agora a grande incógnita. Uma saída do capital do BPI pode ser uma das soluções, mas a história longa de relacionamento entre as duas instituições não faz crer que este possa vir a ser o caminho. A abertura de negociações com Isabel dos Santos, que resultem numa solução que acabe com a indefinição na estrutura accionista do banco, é outra das hipóteses em aberto.

Os últimos meses têm sido de alguma incerteza em torno da instituição, muitas vezes gerada pelas posições erráticas dos seus principais investidores. A oferta lançada pelo Caixabank deixou a ideia de que o processo não tinha sido bem estudado e que os passos necessários não tinham sido todos dados. Isabel dos Santos avançou para uma proposta de fusão com o BCP pouco sofisticada e com muitas incógnitas.

Depois, vieram as peripécias relacionadas com a assembleia geral de 29 de Abril, com a Santoro a pedir um aditamento à agenda da reunião para se debater a eliminação da restrição dos direitos de voto, o que justificou com o intuito de acelerar o desfecho da oferta do Caixabank.

Mas em cima da reunião de 29 de Abril, o representante do Caixabank solicitou ao presidente não executivo do BPI, Artur Santos Silva, que na sua qualidade de accionista recomendasse a interrupção do encontro, para que fosse retomado mês e meio depois de modo a que o capital se pronunciasse sobre a desblindagem. Os espanhóis justificaram-se, dizendo que faltavam as autorizações dos bancos centrais de Portugal, Espanha e do BCE, mas procuraram também ganhar tempo para negociar com a Santoro.

Esta quarta-feira, sem que o ambiente se tivesse alterado desde 29 de Abril, o Caixabank veio dizer que agora já não pretendia adiar a assembleia geral (o que poderia fazer mais uma vez) e o resultado foi o esperado: a minoria de bloqueio à volta de Isabel dos Santos funcionou e votou contra a proposta apresentada pela própria empresária. Iniciativas que indiciam uma navegação à vista ou, então, que as negociações nos bastidores estão em curso.

As acções do BPI deverão voltar na manhã desta sexta-feira à negociação na bolsa de Lisboa. Esta quinta-feira, no momento em que foram suspensas, estavam a cotar nos 1,2590 euros (+1,86%) depois de, na véspera, terem fechado a perder mais de 6%, nos 1,236 euros.

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