Tsipras recebe apoio de chanceler austríaco
Antes de viajar para Atenas, Werner Faymann critica “algumas propostas” das instituições. Governo britânico admite preparar-se para "graves riscos económicos" de uma saída da Grécia do euro.
Na rádio pública austríaca ORF, Faymann pediu a Atenas que respeitasse os seus compromissos mas também afirmou que a Grécia precisa de mais apoio, e mostrou compreensão pelo lado grego: “Há algumas propostas, também do lado das instituições, que não acho bem”, disse. “Num país com uma alta taxa de desemprego, 30 a 40% sem seguro de saúde, querer aumentar o IVA dos medicamentos… As pessoas nesta situação difícil não conseguem entender isto”, disse Feymann, referindo-se a uma medida que o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse não estar em cima da mesa.
Com o cenário de incumprimento a ser cada vez mais mencionado, o Governo britânico anunciou, na manhã desta quarta-feira, que está a fazer planos de contingência para “os graves riscos económicos” de uma saída da Grécia do euro.
Em Portugal, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, garantiu que o país está preparado para esta eventualidade: “se alguma coisa de mais grave acontecer com a Grécia, Portugal não cai a seguir”.
A retórica tem endurecido com a aproximação de prazos reais de pagamentos que a Grécia pode não conseguir fazer – a 30 de Junho tem de pagar 1,6 mil milhões de euros ao FMI e é também nessa data que expira o actual acordo – se não for aumentado o prazo o país perde a hipótese de receber os 7,2 mil milhões de euros, a última tranche do empréstimo da troika que continua dependente das actuais negociações (a última tranche que a Grécia recebeu foi em Agosto do ano passado).
As declarações do social-democrata Faymann ocorrem quando na Alemanha o clima de “falta de paciência” com a Grécia se estende aos dois principais partidos do centro – os sociais-democratas têm feito declarações destas nos últimos dias, desde Sigmar Gabriel, o vice-chanceler, até ao líder dos sociais-democratas no Parlamento Europeu, Martin Schulz (que num debate deixou escapar: “os gregos, especialmente Varoufakis, enervam-me”).
Já o comissário europeu Günther Oettinger (da CDU da chanceler Angela Merkel) declarou que a União Europeia devia fazer planos para um “estado de emergência” na Grécia, para a possibilidade de uma crise, caso haja um incumprimento, assegurando “energia, pagamento aos polícias, stocks de produtos médicos, farmacêuticos e muito mais”.
“O Governo grego parece não se ter apercebido da gravidade da situação”, disse Andreas Scheuer, secretário-geral da CSU (o partido-gémeo da CDU na Baviera), numa entrevista ao jornal Rheinische Post. “Estão a portar-se como palhaços que se sentam na última fila, apesar dos avisos de todos os lados de que vão chumbar.”
Na terça-feira, Alexis Tsipras manteve que desejava chegar a um acordo, mas criticou os credores, acusando mesmo o FMI de responsabilidade “criminal”, o BCE de actuar para uma “asfixia financeira”, e dizendo que a insistência num programa que falhou tem motivos políticos: os credores, alegou, querem “fazer uma demonstração de força destinada a matar qualquer tentativa de pôr fim à austeridade”.
Também na terça-feira, Jean-Claude Juncker mostrou irritação ao acusar o Governo de Atenas de deturpar as propostas da Comissão Europeia. “O debate na Grécia e fora da Grécia seria mais fácil se o Governo grego dissesse exactamente o que a Comissão propõe”, declarou, garantindo, segundo a agência Lusa, que não defende um aumento do IVA nos medicamentos e na electricidade.
O chanceler austríaco Faymann registou o clima de insultos que não ajuda, e acrescentou: “Estou do lado do povo grego que nesta posição difícil está a receber propostas de mais coisas prejudiciais à sociedade.”
Fayman, que apresentou a tarefa de conseguir um acordo para a Grécia como “evitar uma catástrofe”, encontra-se com Tsipras ao meio-dia em Atenas, menos duas horas em Portugal continental.
Ainda nesta quarta-feira é dia de revisão do BCE do mecanismo de assistência financeira de emergência aos bancos gregos (ELA), mas analistas não esperam uma alteração da posição de Mario Draghi, e espera-se também uma intervenção pública da directora-geral do FMI, Christine Lagarde.
O Eurogrupo, o conjunto de ministros das Finanças dos países da zona euro, reúne-se na quinta-feira, e a próxima cimeira de líderes europeus está marcada para dia 25.