A chuva matou 12 pessoas e libertou leões e tigres na capital da Geórgia
Cinco horas de chuva torrencial e a capital da Geórgia ficou parcialmente destruída. Um drama humano mas não só — o jardim zoológico desapareceu; os macacos, por exemplo, morreram todos afogados.
A destruição do jardim zoológico juntou a crueldade a esta tragédia. Alguns animais não puderam ser recuperados e foram abatidos. A outros, poucos, foi possível salvar da água que afogou vários bairros da cidade ou das poças fundas de lama que apareceram por todo o lado.
Por exemplo um hipopótamo, que foi filmado pela televisão pública a nadar numa rua alagada antes de ficar atolado na lama, de onde foi tirado por um grupo de homens que o empurraram para terreno seco. Foi depois atingido com um dardo veterinário e salvo.
Nas redes sociais circulam filmes feitos pelos habitantes de Tbilissi, um mostra um crocodilo escondido entre dois carros e outro um urso sentado em cima de um ar condicionado num prédio.
Um jornalista da AFP que visitou o destruído jardim zoológico viu o cadáver de um leão e outro de um pónei. A porta-voz do zoo, Mzia Charachidze, disse que todos os macacos morreram afogados, dentro das suas jaulas que ficaram submersas — a chuva fez transbordar o rio Vere.
“Os corpos de três pessoas foram encontrados dentro do recinto do zoo. Dois deles eram funcionários”, disse Mzia Charachidze. “Cerca de 20 lobos, oito leões, dois tigres brancos, chacais e jaguares foram abatidos pelas forças especiais ou estão desaparecidos. Só três dos 17 pinguins puderam ser salvos”, precisou. A porta-voz disse depois que os tigres e os leões estavam todos mortos.
Por causa dos animais selvagens à solta, as autoridades da cidade pediram aos habitantes para, se pudessem , não saírem de casa.
Milhares de pessoas foram retiradas de casa. A chuva que começou a cair ainda de noite, de madrugada, deixou muitas estruturas em perigo, sobretudo no centro da capital que, dizem os jornalistas, está muito degradado. Outras, mais próximas do Vere, ficaram alagadas e em vários bairros desta cidade de 1,2 milhões de habitantes deixou de haver luz e água potável . A meio da tarde, sabia-se que havia 36 pessoas hospitalizadas, 24 desaparecidas e 12 mortas.
“As perdas humanas são insuportáveis”, disse o Presidente Giorgi Margvelashvili. Em 2012, chuva forte e prolongada matou cinco pessoas na cidade, mas desta vez as consequências foram mais graves. Este “foi o maior desastre natural até ao momento”, disse o Presidente.
O primeiro-ministro, Irakli Garibachvili, explicou que a chuva provocou “danos importantes” — prejuízos avultados — nas infra-estruturas da cidade. A água fez deslizar terras, partindo estradas, derrubando árvores e danificando equipamentos e edifícios. No cemitério, por exemplo, disse o ministro, havia caixões a sair das sepulturas.
“Bairros inteiros de Tbilissi estão destruídos, é nosso dever ajudar. Juntos vamos reconstruir a cidade e voltar a ter uma vida normal”, disse à AFP Jacob Janjulia, estudante de 21 anos que se voluntariou para o que fosse preciso.
Centenas de pessoas voluntariaram-se junto das equipas de socorros ou nos locais para onde foram levados os desalojados. No meio da tragédia, houve uma só palavra que destoou da solidariedade, a do patriarca da igreja ortodoxa georgiana, Ilia II. Disse que a chuva era uma punição divina porque o jardim zoológico foi construído pelos soviéticos com dinheiro roubado quando proibiram as igrejas. “O zoo foi construído com esse dinheiro e, portanto, não podia prosperar neste lugar. Um pecado não permanece impune”, disse, citado pela AFP.