FMI suspende negociações com Atenas e diz que "a bola está do lado grego"
Instituição diz que há um impasse. Rumores indicam que FMI insiste nos cortes de pensões, que o Governo ddo Syriza recusa terminantemente.
Não era claro qual a gravidade do impasse, mas é difícil desvalorizar uma interrupção das negociações quando se aproximam vários prazos reais – o Eurogrupo de dia 18, a cimeira europeia de 25 e 26 e os pagamentos de 1,6 mil milhões ao FMI no final do mês, data em que expira o acordo actual e depois da qual Atenas não poderá receber os 7,2 mil milhões de euros previstos e cuja entrega depende das negociações em curso.
O jornalista grego Yannis Koutsomitis refere rumores de que o FMI exige os cortes nas pensões de reforma que o Governo de Atenas recusa terminantemente. Em Atenas, os media gregos interpretaram o gesto do FMI como “uma bomba atómica”.
O anúncio do FMI foi visto, no entanto, sobretudo como um meio de pressionar a Grécia. Responsáveis do Fundo disseram que esperavam agora uma acção de Atenas. “O FMI nunca deixa a mesa” de negociações, garantiu um porta-voz, Gerry Rice, em Washington. “Mas a bola está do lado grego”, sublinhou, invocando “grandes diferenças”. “Não tem havido progressos em fazer diminuir estas diferenças, o que quer dizer que estamos ainda muito longe de um acordo”, declarou.
Depois de rumores de que os negociadores gregos em Bruxelas tinham regressado a Atenas, o Governo de Alexis Tsipras anunciou, em comunicado, que continuava a trabalhar “nas questões não resolvidas, incluindo os impostos e a sustentabilidade da dívida”, para que pudesse haver um acordo em breve, “até nas próximas horas”.
O vice-presidente da Comissão Europeia Valdis Dombrovskis confirmou que as conversações entre as equipas técnicas da Comissão e da Grécia continuam.
Antes do anúncio do FMI, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, rompeu o seu quase-silêncio sobre a Grécia com uma intervenção dura. Disse que chagou a altura de “parar de jogar” e que os líderes gregos tinham de “mostrar um pouco de realismo”. “É óbvio que precisamos de decisões, não de negociações”, declarou um irritado Tusk, acrescentando que o encontro do Eurogrupo de 18 de Junho “é realmente crucial”. “Temo que esteja a chegar o dia em que alguém diz: ‘acabou’”.
A declaração foi feita mesmo antes de uma reunião entre o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras. Um encontro de duas horas, aparentemente inconclusivo, e que fontes classificaram como uma “última tentativa” de avançar nas negociações – fontes que estavam, na altura, optimistas em relação aos progressos já conseguidos.
No início do dia, o ministro da Economia da Grécia, Giorgos Stathakis, tinha avisado os gregos que o acordo iria implicar um aumento de impostos. A intervenção de Stathakis foi feita na emissora pública ERT, que recomeçou esta quinta-feira a emitir depois de ter sido abruptamente encerrada há dois anos por causa da austeridade – e cuja reabertura era um dos principais pontos da campanha eleitoral do Syriza.
Noutra má notícia, a autoridade de estatística da Grécia divulgou os números do desemprego, que aumentou de 26,1% para 26,6% no segundo trimestre de 2015.
Em Atenas, manifestantes convocados pelo Partido Comunista ocuparam o Ministério das Finanças contra novas medidas de austeridade. “Já sangrámos o suficiente”, diziam alguns cartazes.