Empresa de águas de Beja endividou-se para asfaltar estradas
Entidade que vendeu equipamento não assume responsabilidades nas avarias que venham a registar-se na central de massa asfáltica que custou 350 mil euros e tem 20 anos de uso.
Segundo disse o vereador socialista Rui Marreiros ao PÚBLICO, a Câmara de Beja “obrigou a EMAS (empresa municipal de água e saneamento) a contrair um empréstimo de curto prazo” para adquirir um equipamento destinado a produzir massas asfálticas para a pavimentação de estradas, mas que já tem duas décadas de utilização.
O autarca socialista frisa que empréstimos de curto prazo “só podem ser usados para suprir carências temporárias de tesouraria”, não podendo ser desviados para investimentos, “como foi o caso”, acentua Rui Marreiros, explicando ainda que o objecto de actuação da EMAS “está longe de ser a reparação de estradas e caminhos, quando se dedica à gestão da água e do saneamento”.
Foi este conjunto de contradições e “atropelos à lei” que levou a oposição socialista a colocar a questão ao presidente da câmara, João Rocha, na reunião do executivo municipal de 3 de Junho, instando-o a explicar por que razão a compra do equipamento “não passou pela reunião de câmara” e criticando-o pelo facto de ter tomado uma decisão repleta de “coisas estranhas e complicadas do ponto de vista legal e estratégico”. João Rocha é também presidente do conselho de administração da EMAS.
Para além do “péssimo negócio, não foram cumpridas regras de gestão, de contratação pública e de defesa do interesse público”. Subsiste ainda o facto de a empresa vendedora só se ter relacionado mais três vezes com a administração pública, sendo que “duas delas estiveram na base de venda de equipamento à Câmara de Serpa”, destaca o vereador socialista. João Rocha foi presidente do município da margem esquerda até 2013.
Além do mais, já foram pagos 200 mil euros, mas a central de massas asfálticas “só é entregue dentro de seis meses”, assinalou Marreiros, observando que para rentabilizar a aquisição “é preciso equipamento acessório e recursos humanos”.
João Rocha foi parco em explicações, frisando apenas que “as coisas acontecem e não podíamos perder a oportunidade” de comprar a central de massas asfálticas. O que importa, referiu o autarca, “é colocar a maquinaria a trabalhar para recuperar as ruas do concelho o quanto antes”.
Sobre o teor das acusações formuladas pela oposição, o autarca disse que “são insinuações e alguns vão ter de engolir o que disseram”.
O PÚBLICO pediu a João Rocha que fundamentasse as razões da aquisição do equipamento pela EMAS, mas o autarca adiantou apenas que vai ser feito “um contrato” entre a câmara e a empresa municipal. Sobre o montante pago pela aquisição, foi Rui Marreiros que adiantou o valor. “Eu não tenho os números de cor”, justificou-se o presidente da Câmara de Beja.
O PÚBLICO tentou contactar a empresa LeiriPrensa, mas não obteve resposta.