Avião solar foi danificado e ficará em terra pelo menos uma semana
Este novo contratempo vem atrasar mais uma vez a viagem do Solar Impulse 2 até ao Havai.
“A reparação vai demorar uma semana. Os danos são ligeiros, nada de grave”, disse o suíço André Borschberg durante uma conferência de imprensa que decorreu na quarta-feira no aeroporto de Nagóia, onde se encontra o Solar Impulse 2.
Apesar das precauções da equipa, um dos ailerons do aparelho ficou danificado após a aterragem porque o avião teve de permanecer horas na pista, exposto ao vento, à chuva e ao calor, à espera de um abrigo à sua medida que entretanto foi enviado de urgência da China num avião de carga.
Só que o Solar Impulse 2, que não cabe nos hangares tradicionais, não resiste às turbulências e não foi concebido para ficar à intempérie, mesmo no solo. A gigantesca tenda insuflável de protecção só chegou a Nagóia na terça-feira à noite, ao mesmo tempo que a equipa logística – e a seguir, foram ainda precisas umas dez horas de trabalho nocturno para a instalar.
Quando as reparações estiverem concluídas, o Solar Impulse 2 ainda deverá esperar por uma janela de tempo clemente para retomar voo em direcção ao Havai. “A estação da chuva está a começar no Japão, mas deverá também haver algumas abertas e vamos escolher um desses momentos para partir, talvez voando um pouco mais para norte” de forma a contornar a frente de mau tempo e chegar ao destino, explicou Borschberg agência AFP.
“É certo que vai ser um pouco mais difícil (…) encontrar uma janela”, admitiu, confessando-se algo preocupado desde a sua chegada ao Japão.
À procura do sol
“O desafio é ter sol todas as manhãs para poder recarregar as baterias” do avião, não só na descolagem mas durante toda a viagem. “Mas não estamos limitados em termos de autonomia em combustível, portanto temos alguma flexibilidade” ao nível do percurso que iremos fazer à procura da luz solar, salientou este aventureiro de 62 anos.
“É um avião que sobe durante o dia graças à energia solar e desce durante a noite para poupar energia até ao amanhecer seguinte, recomeçando então a sua ascensão”, explica por seu lado o seu "cúmplice", o piloto suíço Bertrand Piccard, que deverá retomar os comandos do avião no Havai. "Portanto, no fim do dia voamos a 8500 metros de altitude e no fim da noite a 1000 ou 2000 metros”, mas sempre sem permanecer dentro das camadas de nuvens.
O Solar Impulse 2, cujas asas estão cobertas de células fotovoltaicas, tinha partido a 9 de Março de Abu Dabi para uma volta ao mundo de 35.000 quilómetros. O projecto, que representa ao mesmo tempo um desafio tecnológico e uma façanha aeronáutica, destina-se a promover as energias renováveis e em particular a energia solar.
O avião já fez escala em Omã, na Índia, na Birmânia e na China, onde permaneceu mais de um mês, nomeadamente por causa dos caprichos da meteorologia. A seguir, teve de interromper a sua travessia de 8500 quilómetros por cima do Pacífico, entre Nanquim (Leste da China) e Havai – que deveria ter durado seis dias e seis noites –, fazendo uma escala imprevista em Nagóia.
Os dois pilotos estão extremamente bem preparados para esta prova de resitência. “O objectivo é sentir-se à vontade para ser capaz de aceitar mentalmente e até de gostar de permanecer nesse cockpit durante tanto tempo”, disse Borschberg.
“Dormimos por intervalos de 20 minutos e, como isso não chega, eu utilizo técnicas de ioga e de meditação e o meu parceiro técnicas de auto-hipnose para relaxarmos", contou ainda, impaciente, apesar de todos estes inconvenientes, por retomar a sua vida solitária no seu diminuto habitáculo.