Corrupção é o abuso de determinado poder ou posição para adquirir benefícios individuais ou para determinados grupos. É definida como perversão moral, da integridade, comportamento desonesto ou ilegal, mais notável em pessoas poderosas.
Há duas semanas foi divulgado o estudo "Fraude e Corrupção - opção mais fácil para crescer?", da Ernst & Young: Portugal obteve um honroso 5º lugar da aceitação de que há corrupção generalizada nas empresas, num estudo com 38 países da Europa, Médio Oriente, África e Índia. Segundo a E&Y, 82% das pessoas nas empresas portuguesas afirma que subornos e corrupção acontecem de forma generalizada e 35% dos quadros das grandes empresas no país consideram normal oferecer-se presentes, dinheiro ou o que for necessário para garantir a viabilidade de negócios.
Mas não é assim com as mais bem sucedidas empresas do mundo? Quando a taxa Libor é manipulada pelos bancos Credit Suisse, JP Morgan Chase, Citigroup, Bank of America, Lloyds, HSBC, Deutsche Bank, Societé Générale e UBS, entre outros, e a multa por corrupção foi muito menor do que o lucro da manipulação, não foi empreendedor? Quando o Crédit Agricole, o Barclays, a SocGen manipularam a Euribor para o mesmo efeito, não foi competitivo? Quando a Siemens subornou altos funcionários argentinos para obter a concessão dos bilhetes de identidade durante décadas? Ou quando a Bear Stearns faliu-se fraudolentamente para ser resgatada pela Reserva Federal? Exemplos não faltam.
E quando a corrupção é legal?
Quando destruir o ambiente é autorizado administrativamente? Quando instalar minas de carvão na Grande Barreira do Coral é legal? Quando tratar abaixo de cão os seres humanos que dão pelo nome de trabalhador é legal e incentivado? Quando pagar salários de miséria que não permitem a esses trabalhadores viver fora da pobreza enquanto os lucros das empresas disparam é não só legal mas competitivo? Quando os homens mais ricos do mundo como Carlos Slim, Amancio Ortega, os irmãos Koch ou os Walton são olhados como exemplo e as suas fortunas são construídas sob a forma da corrupção de centenas de milhões de trabalhadores precários e escravos, e sob a destruição do planeta, ainda é corrupção ou já é virtude?
Quando PPPs entregam às empresas os lucros enquanto as despesas ficam do lado dos Estados? E quando o Secretário de Estado que as negoceia antes de entrar para o governo assinava estes contratos do lado dos privados? E quando se privatiza “porque é urgente” empresas que sempre deram lucro ao Estado e que foram pagas com o dinheiro dos impostos de toda a população, entregues por tuta e meia a uns quantos empreendedores competitivos? É corrupção ou boa governação?
A legalidade é uma questão de poder, não de justiça, e a corrupção é central no nosso sistema, porque agride fundamentalmente a justiça na sociedade e torna legal e até desejável que a injustiça vigore, para manter a pobreza extrema e a destruição e sustentar a riqueza absoluta e o fausto milionário. Não admira portanto que governos e empresas caminhem sob o risco da ilegalidade, mantendo competitivamente a corrupção como forma de funcionamento da sociedade. É que o empreendedorismo requer soluções criativas e é por isso que a precarização do trabalho e a destruição do ambiente são acessórias no debate político – é que elas são tão centrais na vida das pessoas que uma reflexão colectiva mínima demonstraria que somos governados e empregados por corruptos até à medula. Ou empreendedores. É como preferirem.