As revoluções na educação
Os sistemas educativos actuais têm como maiores desafios, em primeiro lugar, a qualidade na educação, a única forma de garantir projectos de vida viáveis, positivos e com potencial de realização pessoal, profissional e social, como cidadão, o futuro de que fala Sampaio da Nóvoa.
Em segundo lugar é imprescindível que essa qualidade seja extensível a todos, ou seja, a inclusão de que fala Sampaio da Nóvoa. Afirmo com muita frequência que em sociedades cada vez mais desenvolvidas a exclusão ou insucesso educativo são o primeiro passo da exclusão social.
Nesta conformidade, a escola terá necessariamente de caminhar, não sei se revolucionariamente, sob estes dois fortes compromissos que não são matéria de natureza pedagógica ou científica, mas sim de natureza ética, de valores e de uma visão de sociedade com equidade, com cidadãos qualificados, que combate a pobreza e exclusão promovendo desenvolvimento através da melhor arma ao seu alcance, a educação.
No entanto, é fundamental que não esqueçamos que, para continuar a usar o termo proposto por Sampaio da Nóvoa, uma outra revolução vai sem grande alarido fazendo o seu caminho na educação em Portugal e noutras paragens.
Atentando nos caminhos que a educação e a escola vêm tomando e de uma forma necessariamente breve podemos reparar em alguns aspectos que por aqui já tenho referido.
De uma ideia de educação assente em qualificação, formação pessoal e cidadania, e global nos seus conteúdos vamos deslizando para uma ideia de educação assente na aprendizagem de competências consideradas como essenciais, deixando de fora ou desvalorizando dimensões como expressões ou cidadania, recordo que Formação Cívica deixou de integrar os currículos. A literatura em inglês refere esta questão de forma curiosa, aponta a substituição da ideia de education pela ideia de learnification.
Para servir esta visão de formação de cidadãos “apenas técnicos qualificados”, os currículos são ajustados nos conteúdos e transformados em “metas de aprendizagem” excessivas e burocráticas que traduzem o que se entende por “saberes essenciais”.
De forma coerente, instala-se uma “examocracia” que através de sucessivos crivos selecciona os mais aptos e empurra, exclui, para guetos curriculares e/ou físicos os alunos com dificuldades, os preguiçosos, os “que não querem estudar”. Este caminho tem sido questionado inclusivamente como entidades como a OCDE.
Neste modelo de educação, os professores são desvalorizados quer na sua imagem social e estatuto salarial, quer na dimensão técnico-pedagógica do seu trabalho, transformam-se em “entregadores de conteúdos” para salas superlotadas e esforçam-se arduamente por conter, dificilmente, os comportamentos dos alunos. No fim de cada ano vem o exame e quem agarrou os “conteúdos” agarrou, quem não agarrou… agarrasse e vai para outro caminho pois ali só atrapalha.
Neste contexto emerge uma tentação, progressivamente mais clara, de fazer deslizar para a iniciativa privada investimentos que são imprescindíveis à qualidade da educação e escola pública alimentando e estimulando os negócios da educação.
Na verdade, Sampaio da Nóvoa tem razão, é preciso acreditar numa outra revolução que páre esta revolução que já está aqui, à nossa beira, nas nossas escolas. É uma urgência.