Milícias xiitas cercam Ramadi em três frentes e dizem que comandam operações

Combatentes apoiados pelo Irão fazem progressos no terreno no Iraque, mas agravam riscos de conflitos sectários com provocações a sunitas.

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Membros das milícias xiitas combatem extremistas do Estado Islâmico nos arredores de Tikrit Ahmad al-Rubaye / Reuters

Até ao momento, os combates entre jihadistas e forças favoráveis a Bagdad aconteceram sobretudo nas pequenas localidades a leste de Ramadi. As forças xiitas parecem ter-se aproximado da cidade, mas a situação no terreno é ainda incerta. De acordo com a Al-Jazira, os jihadistas lançaram nesta terça-feira um ataque suicida contra veículos das forças pró-governamentais que matou pelo menos 25 pessoas.

À Reuters, um porta-voz das Unidades de Mobilização Popular, o nome dado à coligação xiita, disse que a reconquista de Ramadi “não demorará muito tempo”, fazendo assim eco das declarações do primeiro-ministro iraquiano à BBC. Segundo disse Haider al-Abadi na segunda-feira, a cidade será retomada “em dias” caso haja apoio da coligação internacional liderada pelos Estados Unidosi. 

Mas vários observadores dizem que o conflito deve prolongar-se. Os extremistas controlam todos os pontos de fronteira com a Síria e têm a via aberta para reforçarem a cidade. Há relatos que apontam para que os jihadistas tenham já recebido vários reforços em Ramadi. “É provável que seja uma batalha prolongada”, afirma o correspondente da Al-Jazira no Iraque, segundo o qual “será uma operação muito grande, organizada por etapas, ao longo de algumas das estradas principais da província de Anbar”.

Oficialmente, a operação de reconquista de Ramadi é controlada ainda pelo Governo iraquiano, que supervisiona as milícias xiitas, o exército e tribos locais. Mas a reivindicação desta terça-feira é um sinal da dependência de Bagdad das forças xiitas e pode ser o rastilho para novos conflitos sectários na província de maioria sunita.

Há já indícios de provocações sectárias vindas das Unidades de Mobilização Popular. Nesta terça-feira, as milícias xiitas anunciaram que a sua operação em Ramadi se chamaria “Labaik ya Hussain”, uma frase em memória de Husayn ibn Ali, primeiro imã do ramo xiita do Islão e origem do cisma com a ala sunita.

O exército iraquiano, que perdeu a cidade para o autoproclamado Estado Islâmico, está em minoria quando comparado com os cerca de 3000 combatentes xiitas das milícias paramilitares. Como se antecipava, a participação das Unidades Populares de Mobilização está a contribuir para o avanço das forças pró-governamentais – foi sobretudo graças à sua participação que Tikrit foi reconquistada aos jihadistas em Abril. Mas pode estar a fazê-lo a custo do agravamento das tensões religiosas. 

O Governo iraquiano convocou as milícias xiitas para Ramadi como medida de último recurso e só depois de a cidade ter caído para as mãos dos radicais islamistas. Ramadi é a capital da região de Anbar, cuja maioria sunita se tem mostrado frequentemente hostil ao Governo iraquiano, controlado sobretudo por responsáveis xiitas. De tal modo que a progressão do Estado Islâmico ao longo da província beneficiou das convicções sectárias de Anbar. Os radicais islamistas receberam o apoio de várias tribos locais, estas últimas descontentes com aquilo que entendem ser um executivo anti-sunita.

Há por isso grandes receios de que as milícias paramilitares xiitas, algumas organizadas com o financiamento e armamento do Irão, despertem em Ramadi o fantasma das divisões sectárias e contribuam, em último caso, para o fortalecimento do autoproclamado Estado Islâmico, que se apresenta como o grande veículo de protecção da comunidade sunita mundial. 

O Irão, em linha contrária aos Estados Unidos, tem intensificado a sua presença no Iraque. Também nesta terça-feira, Qasem Suleimani, o comandante das as operações especiais dos Guardas da Revolução iranianos, os Quds, há meses no Iraque, voltou a criticar a falta de presença norte-americana no país. 

"Obama não fez porra nenhuma [sic] até agora para confrontar o Daesh [nome em árabe dado ao Estado Islâmico]. Isso não mostra que não há vontade na América de proteger o Governo iraquiano, quando a poucos quilómetros de Ramadi há assassinatos e crimes de guerra a acontecerem e eles não fazem nada?", afirmou Qasem Suleimani, citado pela Reuters. 

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