PP perde hegemonia e resiste por pouco como força mais votada

Novos partidos entram em todos os parlamentos regionais e municipais, confirmando que o bipartidarismo de sempre já não dita as regras. “Somos uma revolução democrática imparável”, diz a nova autarca de Barcelona, apoiada pelo Podemos.

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Eleita presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau comoveu-se durante a conferência de imprensa Albert Gea/Reuters

Em Madrid, a ex-juíza Manuela Carmena ficou a poucos votos de fazer o mesmo. Mas a vencedora, Esperanza Aguirre, do Partido Popular, ficou a larga distância da maioria absoluta e, se Carmena e os socialistas quiserem entender-se, podem governar a capital, impedindo que o PP o faça pela primeira vez em 24 anos.

Aguirre elegeu 21 vereadores; Carmena 20 – são precisos 29 para governar em maioria. Os socialistas obtiveram 9, enquanto sete foram eleitos nas listas do Ciudadanos, a formação de Albert Rivera nascida na Catalunha há nove anos e que só agora se tornou num partido nacional.

“Ganhou uma maioria que quer a mudança. Ganharam os cidadãos de Madrid”, afirmou Carmena. “Tanto se for alcadesa como se houver um pacto que deixe o PP na oposição, a minha primeira mensagem não pode ser mais do que de gratidão”, disse Aguirre, num tom humilde que os espanhóis não se lembram de lhe ouvir.

Espanha votou para eleger governos em 13 regiões autónomas e em todos os munícios. “Mudança profunda. O PP perde a hegemonia, o PSOE avança e os emergentes consolidam-se”, resume, em editorial o diário El País, na ida às urnas que menos maiorias absolutas produziu na história democrática do país.

A partir desta segunda-feira, os partidos mais votados ou com mais hipóteses de alcançarem maiorias vão ter de aprender a arte de dialogar e ceder. O mapa de 2015 é muito diferente do de 2011. Para complicar mais o que se passará nas próximas semanas e meses, há eleições legislativas antes do fim do ano e as sondagens sugerem que qualquer um dos quatro partidos mais votados, PP, PSOE, Podemos e Ciudadanos, pode vencer.

Quando a contagem dava o seu partido como terceira força mais votada, com 6,55%, perto de 1,5 milhões de boletins, Albert Rivera, do Ciudanos, festejava. “Aqui temos um partido, aqui temos um projecto, ainda não fizemos mais do que começar.”

“Começa a escrever-se em Espanha o fim do bipartidarismo”, sentenciou também o líder do Podemos, Pablo Iglesias. “Teríamos preferido que o desgaste dos partidos velhos fosse mais rápido.”

Mais rápido seria difícil, dirão as análises depois de contados todos os votos. Somando os resultados do PP e do PSOE, os dois partidos perdem quase 13% e 3,3 milhões de votos face a 2011.

O Podemos apresentou-se com o seu nome nas corridas para as autonomias e nas municipais apoiou candidaturas cidadãs – para além da vitória da Barcelona En Comú, de Colau, em Madrid Carmena ficou em segundo, quase roubando a vitória a Aguirre e ao PP, enquanto Pedro Santisteve empatou em Saragoça, também com os conservadores.

Por mais que o partido no poder e o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, tentem oferecer leituras diferentes – quando era meia-noite, nenhum dos principais dirigentes tinha feito declarações –, a verdade é que esta foi uma noite amarga para o Governo. O PP perdeu mais de dez pontos percentuais em relação a 2011.

Na noite de domingo, só falou o chefe da campanha, Pablo Casado. Primeiro, agradeceu “a festa da democracia” e sublinhou que “o PP é a força mais votada tanto nas autonómicas como nas municipais”, embora na sede do partido se admita que, “se compararmos estes com os resultados de 2011, tudo muda”. Ao fim da noite, Casado despediu-se com promessas de responder a todas as perguntas na segunda-feira. “Espanha vai na boa direcção”, disse ainda.

A direita no poder permanece como formação mais votada, mas com uma vantagem mínima sobre o PSOE. Com 80% de todos os votos contados (autonómicas e municipais), o PP contabilizava 26,23%, o PSOE 25,46%.

Fim das maiorias
Com 96% dos votos das municipais escrutinados, os socialistas venciam na Andaluzia, Astúrias, Aragão e na Extremadura. O PP em Madrid, Galiza, Cantábria, Castela y Leon, Castella La Mancha, Rioja, Valência, Múrcia e Baleares. Mas perdia a maioria em bastiões, como Valência, e arriscava-se a não renovar nenhuma das sete maiorias absolutas que tinha nos governos das comunidades.

“Nunca umas eleições municipais e autonómicas despertaram expectativas tão elevadas ou provocaram incertezas tão profundas como estas”, antecipara no El País o historiador Santos Juliá. “Claro, não tem nada a ver com 1977 [as eleições da Transição], mas tudo acontece como se, esgotado o que então nasceu como vida política, estivéssemos agora no momento de cortar com o passado para assinalar um novo começo.”

Se há um rosto da noite é o de Ada Colau, em lágrimas, depois de falar aos que a elegeram. “Somos uma revolução democrática imparável”, disse, depois de admitir que não foi fácil. “Difamaram-nos, caluniaram-no. Mas dissemos que era possível e conseguimos demonstrá-lo. Foi a vitória de David contra Golias, venceram as pessoas, a cidadania, a esperança, o desejo de mudança contra a campanha do medo.” 

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