Cameron vai cortar benefícios aos imigrantes da União Europeia
Quando o projecto de lei for aprovado, a polícia vai poder confiscar os salários dos ilegais e vigiar as contas bancárias de suspeitos.
"Eu e muitas outras pessoas acreditamos que é justo reduzir os incentivos sociais para baixar o número de imigrantes da UE, e esse será um tema fundamental da negociação" com Bruxelas, disse Cameron num discurso no Ministério do Interior. A seguir ao discurso, o primeiro-ministro e a responsável pela pasta do Interior, Theresa May, acompanharam uma equipa da polícia numa operação contra a imigração ilegal, no decorrer da qual três pessoas foram presas.
O conservador foi reeleito no dia 7 de Maio com maioria absoluta depois de uma campanha eleitoral em que o controlo da imigração foi um dos temas mais explorados e em que Cameron se comprometeu a realizar um referendo sobre a permanência do país na União Europeia. Esse referendo, inicialmente marcado para 2017, deverá realizar-se já para o ano — entretanto, o primeiro-ministro britânico quer renegociar os tratados com Bruxelas. Oficialmente, os cidadãos da União Europeu não devem ser considerados imigrantes mas cidadãos de plenos direitos nos países da União que têm a liberdade de circular livremente no espaço comunitário.
Cameron disse que estas medidas para reduzir o número de imigrantes no Reino Unido constam do seu programa de Governo. E vão ser mencionadas por Isabel II no dia 27 quando, ao fazer o "discurso da rainha" no Parlamento de Westminster, inaugurar a legislatura.
No capítulo da imigração ilegal, Cameron disse que vão ser apertados os mecanismos de identificação dos "indocumentados" — o projecto de lei sobre imigração que o Governo conservador pretende aprovar permite a confiscação dos salários dos ilegais, a vigilância das contas bancárias suspeitas e a investigação aos arrendamentos de casa suspeitos. O programa "expulsar primeiro, averiguar [pedidos de asilo] depois" vai ser reforçado.
Haverá mais mudanças na lei. Por enquanto, as empresas que contraram ilegais são sujeitas a multas que podem ir até às 20 mil libras (26 mil euros); no futuro, a contratação de imigrantes ilegais passará a constituir um delito.
"Uma imigração não controlada prejudica o nosso mercado de trabalho e reduz os salários. O povo britânico quer que estas coisas se resolvam", disse Cameron, que radicalizou o seus discurso sobre o tema durante a campanha eleitoral para tentar travar a fuga de votos conservadores para o partido anti-imigração e antieuropeu UKIP.
Quando foi eleito em 2010, o líder conservador prometeu controlar a entrada de estrangeiros no país. Não foi bem sucedido, como mostraram os números. Há dias, o instituto britânico de estatísticas publicou os números definitivos sobre a imigração em 2014 — entraram no país 318 mil pessoas, um aumento de 21,8% em relação ao ano anterior e um número só ultrapassado em 2005 quando entraram no Reino Unido 320 mil imigrantes, do espaço europeu e do resto do mundo.
Segundo o instituto de estatística, no ano passado a imigração que mais aumentou foi a de fora da União Europeia, com mais 42 mil pessoas do que no ano anterior. Dos países da UE chegaram mais 64 mil pessoas, muitas delas do Leste (Polónia, Hungria e Roménia).
Numa análise aos números do instituto de estatística, o Gabinete de Responsabilidade Orçamental (um gabinete independente de apoio ao Governo) sublinhou que o crescimento da economia britânica atraiu "trabalhadores especializados" de todo mundo e que, ao mesmo tempo, a actividade destes ajudou a gerar esse crescimento.
Mas mais centrado nos números do que nas explicações teóricas sobre a imigração, Cameron defendeu que as medidas que anunciou são necessárias para salvaguardar o funcionamento das estruturas britânicas e considerou que a imigração afecta a qualidades da educação e dos serviços de saúde do Reino Unido. "Um país forte não é o que abre as portas mas o que controla as entradas. Porque se controlarmos a imigração, controlamos a pressão a que são submetidos os serviços públicos — o que é justo", concluiu.