A segunda juventude de Jonas, que já foi o “pior avançado do mundo”
Teve fama mundial ao falhar o golo três vezes no mesmo lance. Mas redimiu-se, deu a volta por cima e foi a grande figura do Benfica bicampeão.
Num tempo em que a Internet cria heróis e vilões instantâneos, Jonas foi protagonista de um vídeo que se tornou viral. Mas não era a fama que o avançado, então com 24 anos, desejaria. Estávamos em Março de 2009 e Jonas representava o Grémio de Porto Alegre. Numa partida da Taça Libertadores frente aos colombianos do Boyacá Chicó (em Tunja, a 2800 metros de altitude), a equipa orientada por Celso Roth fez o único golo ainda na primeira parte. Mas o lance pelo qual o jogo continua a ser recordado só aconteceria no segundo tempo, quando Jonas surgiu em excelente posição para ampliar a vantagem gremista: entrou na área e disparou para a defesa do guarda-redes adversário; recolheu o ressalto e, já dentro da pequena área, sem oposição, rematou de pé esquerdo mas acertou em cheio no poste; a bola voltou aos pés de Jonas, que contornou o guardião e, de ângulo difícil (mas com a baliza à mercê), voltou a tentar a sorte. Mas a bola foi para fora de vez.
Três falhanços num só lance, em menos de dez segundos, rapidamente fizeram de Jonas uma vedeta fora do Brasil. O vídeo passou pelo site do Mundo Deportivo, com um epíteto pouco simpático para Jonas: “O pior avançado do mundo”. “Será possível falhar tanto?”, questionava-se o diário desportivo espanhol.
A situação, porém, não foi encarada com dramatismo pelo futebolista que agora representa o Benfica. “Falávamos do lance, mas na brincadeira. Ele superou isso naturalmente e chegámos à meia-final da Libertadores, que perdemos com o Cruzeiro. Depois o Jonas foi para Espanha”, recordou ao PÚBLICO o médio Makelele, que passou pelo futebol português ao serviço da Académica e foi companheiro de equipa do avançado no Grémio. “Perdeu três golos no mesmo lance, eu é que fiz o passe para ele. O jornal espanhol escreveu aquilo, mas o Jonas provou que isso não tinha nada a ver. Isso acontece aos jogadores, por vezes há dias maus. Mas o Jonas é um jogador que faz a diferença, tem grande qualidade”, lembrou.
Dos tempos em que conviveu com Jonas no Grémio, Makelele reteve o “carácter e humildade”. “É uma óptima pessoa e um jogador acima da média. Toda a gente gostava dele, era um ídolo da ‘torcida’”, contou o futebolista brasileiro.
Se algum trauma tivesse ficado após aquela noite em Tunja, Jonas superou-o rapidamente. Em 2010 sagrou-se melhor marcador do Brasileirão, com 23 golos (mais cinco do que Neymar, então no Santos), e atravessou o Atlântico para alinhar no futebol espanhol, ao serviço do Valência. Conquistou o seu espaço na equipa che, fez golos e estreou-se nas competições europeias. E no final de 2011 deixava marca na Liga dos Campeões, com aquele que continua a ser, segundo a UEFA, o segundo golo mais rápido da história da competição: precisou de apenas 10,96 segundos para inaugurar o marcador no Valência-Bayer Leverkusen da fase de grupos.
Porém, com a chegada de Nuno Espírito Santo no início desta temporada, deixou de haver espaço para Jonas no Valência. O avançado esteve no mercado e acabaria por assinar pelo Benfica, já com o campeonato a decorrer. Mas a adaptação foi rápida: “De todos os clubes por que passei é o que tem a melhor estrutura, com profissionais em todas as áreas. Isso tudo facilitou muito”, reconhecia em Fevereiro, ao Globo.
O resto da história é conhecido: na Luz, Jonas vive uma segunda juventude, com os golos a sucederem-se. Ele chegou tarde ao futebol (começou nos juniores), podia ter sido farmacêutico (foi o que estudou na faculdade) e protagonizou aquele lance “absurdamente incrível” em Tunja. Mas se estão à procura do “pior avançado do mundo”, procurem noutro lado.