70% dos jovens entre os 15 e os 24 anos admitem ir trabalhar para o estrangeiro

Estudo encomendado pela Presidência da República revela expectativas baixas da juventude em relação ao futuro próximo no país. Ao contrário do apelo de Cavaco, maioria dos jovens está disponível para emigrar e desinteressada da política.

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Adriano Miranda

Cavaco Silva quer os jovens regressem ao país e está apreensivo com o afastamento que mostram em relação à política. O que os números evidenciam é que a maioria dos jovens não se interessa “nada” por política e está aberta, de alguma forma, à possibilidade de trabalhar no estrangeiro.

O estudo foi encomendado pela Presidência da República, chama-se Emprego, Mobilidade, Política e Lazer: situações e atitudes dos jovens portugueses numa perspectiva comparada, e é de Mariana Costa Lobo, Vítor Sérgio Ferreira e Jussara Rowland (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa).

Nele pode ler-se, entre muitos outros aspectos, que “a proporção de indivíduos que declaram considerar a hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro no futuro é maior entre os jovens e jovens adultos do que nos restantes grupos etários”: “Se tivermos em conta os jovens que consideram a ideia de vir a trabalhar no estrangeiro e os que, apesar de não considerarem a ideia, não a excluem, pode concluir-se que cerca de 70% dos jovens entre 15 e 24 anos estão de alguma forma abertos à hipótese de vir a ter uma experiência laboral fora de Portugal.”

O número inclui aqueles que respondem “sim” à “hipótese de vir a trabalhar no estrangeiro em algum momento no futuro” (53,1%) e aqueles que não excluem essa hipótese – 16,1% não sabe.

São os jovens filhos de pais mais escolarizados e os que já frequentaram uma universidade num país da União Europeia os que mais declaram estar abertos à hipótese de trabalhar no estrangeiro.

As razões que levariam os jovens a ter uma experiência laboral no estrangeiro são sobretudo melhores oportunidades de emprego e de condições de trabalho. “Os jovens dos 15 aos 24 anos, na sua maioria ainda em fase de formação, distinguem-se por serem o grupo etário que mais aponta motivações relacionadas com o seu desenvolvimento pessoal, nomeadamente a nível da aquisição de novas competências, na acumulação de novas experiências e ampliação das suas redes de solidariedade”, lê-se.

Férias, desemprego e democracia
Os dados também permitem perceber que os jovens portugueses estão mais insatisfeitos agora com a democracia do que 2007 – em 2015, 17,3% considera que a democracia funciona “bem”; em 2007 a percentagem era 33,8. Além disso, em 2015, 57,3% dos jovens entre os 15 e os 24 não se interessa “nada” por política – em 2007, a percentagem ficava-se pelos 23,5.

Os jovens estão pouco esperançados em relação ao futuro próximo em Portugal. Confrontados com a frase “daqui a dois anos, a crise terá terminado e a situação do emprego em Portugal será melhor do que hoje”, a maioria discordou – 60,8% entre os 15 e os 24 e 66,5% entre os 25 e os 34.

Destaca-se ainda que “uma parte considerável” dos jovens nunca viajou de férias para o estrangeiro (60,6% entre os 15 e 24 anos e 53,3% dos jovens entre 25 e 34).

Segundo o estudo, a proporção de jovens sem trabalho há mais de um ano é “muito significativa”. Entre os inquiridos, dos 15 aos 24 anos, 38,2% estão sem emprego há mais de um ano; entre os 25 e os 34 anos a percentagem chega aos 52,8%.

O estudo ressalva, no entanto, que o desemprego de longa duração tem valores “inexpressivos” nos jovens com formação superior. E que estabilidade e segurança são os factores mais valorizados no que toca ao trabalho, com percentagens a ultrapassarem os 80% em todas as idades. O inquérito foi realizado entre 6 e 17 de Março e o universo incluiu indivíduos com 15 anos e mais. A amostra total incluiu 1612 entrevistas.

Apesar de aos jornalistas se ter escusado a comentar questões da actualidade política, o economista e coordenador do cenário macroeconómico do PS, Mário Centeno, considerou, na sua intervenção, que “é a formação que permite aos jovens ultrapassarem os desafios no mercado de trabalho”.

Defendeu que é necessário “valorizar o retorno aos investimentos em educação no contexto nacional, eliminando os meandros da excessiva segmentação contratual”; “garantir às famílias as condições de financiamento do ensino, aliviando as suas restrições de liquidez”; e “estimular o emprego, aumentando as contratações”.

Já a presidente da Fundação Champalimaud, Leonor Beleza, afirmou que Portugal tem as condições para ser “um dos mais atractivos” países para os jovens, ressalvando que é necessário saber como os atrair.

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