Sou um ex-migrante

Agora pagam-nos para regressar, imploram-nos para voltar, quem consegue acreditar nesse país sem chefia?

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Lali Masriera

Sou português e londrino, há uma década caminho por uma corda bamba sem destino, algures num purgatório europeu. Sentindo uma vertigem tal de abraçar o vazio mundial, abandonando a posição inicial e tentando alcançar o céu. Não saí só por falta de opção, mas também por ilusão, com tanta globalização certas coisas deixam de fazer sentido: nascer e morrer cidadão do mesmo país já não nos faz tanta confusão nem causa o mesmo alarido.

Questionavam se sentia saudade, era tal a novidade desta nova realidade de lá fora só estar eu. Tornou-se uma banalidade nesta triste sociedade, é já tanta a quantidade de gente que deixou os seus. Pediram-nos para desenrascar um sítio onde trabalhar, pelo mundo procurar o que em casa já não se oferecia. Agora pagam-nos para regressar, imploram-nos para voltar, quem consegue acreditar nesse país sem chefia? Nesta situação indefinida, e numa noite excessiva, encontrei outra à deriva náufraga da mesma pétrea jangada. Decidimos formar um lar, uma salganhada de formas de estar, juntando ao núcleo familiar uma pequena anglo-ibérica desenraízada.

Já tanto tempo passou, desde que o país abandonou quando o emigrante emigrou e se instalou para aquele lado. Concerteza se enraízou, estrangeirismos assimilou, certas coisas descartou ao querer controlar o seu próprio fado. Será o futuro da humanidade o fim da identidade e do conceito de nacionalidade cultura, religião e cor? Um estado de vida superior, onde o que interessa é o amor e onde o verdadeiro valor se dá a quem alcança a felicidade?

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