Burundi: “É um golpe ou não? Ninguém sabe.”

Presidente diz que tentativa de golpe falhou mas está ainda em parte incerta. Golpistas garantem que controlam a capital.

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“Houve disparos esta manhã. Agora há disparos a cada dez minutos” Goran Tomasevic/Reuters
Pierre Nkurunzinza num congresso do partido em que foi decidida a sua candidatura a um terceiro mandato
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Pierre Nkurunzinza num congresso do partido em que foi decidida a sua candidatura a um terceiro mandato Landry Nshimiye/AFP

É certo que, na quarta-feira, houve uma tentativa de golpe, levada a cabo no círculo interno do poder, por um general recentemente afastado. No dia seguinte os golpistas diziam controlar a capital,  e o Presidente, Pierre Nkurunziza, garantia que controlava o país.

O anúncio de golpe foi feito pelo próprio general Godefroid Niyombare. “O Presidente Pierre Nkurunziza está destituído das suas funções, o Governo está dissolvido”, anunciou Niyombare numa rádio privada. Durante a noite, esta emissora foi atacada, aparentemente por uma milícia de jovens partidários do Presidente Nkurunziza. Esta e outras rádios privadas foram atacadas, e ficaram em silêncio. A sede da televisão nacional era palco de violentos confrontos, e embora continuasse a emitir, não era claro quem a controlava.

O Presidente, que estava na Tanzânia quando o golpe foi anunciado, e que não terá conseguido ainda regressar ao país, usou o Twitter para reagir ao anúncio de golpe: “Falhou”, escreveu. Mais tarde, pediu calma e garantiu que controlava a situação.

A crise tem origem no anúncio de Nkurunziza, 51 anos, de que iria concorrer a um terceiro mandato. A Constituição do Burundi diz que o Presidente só pode ser eleito para dois mandatos, mas como no primeiro o Presidente foi nomeado pelo Parlamento e não eleito por voto popular, o argumento é que Nkurunziza poderia ainda cumprir mais um mandato.

O general Niyombare enviou uma nota pessoal desaconselhando o Presidente a concorrer, este não gostou e demitiu-o da chefia dos serviços de informação. 

O anúncio público, em final de Abril, de que o Nkurunziza iria concorrer a um terceiro mandato nas eleições de Junho levou a protestos e violência na capital em que morreram mais de 20 pessoas. Muitas saíram entretanto do país com medo da violência.

Embora os dois protagonistas nesta crise sejam de etnia hutu, o país tem um historial de tensão étnica e a mesma composição que o vizinho Ruanda – 85% hutus e 15% tutsis. Teme-se que um dos lados use esta tensão para tentar ganhar vantagem.

“As pessoas estão fechadas em casa”, relatou Gad Ngajimana, que vive na capital, Bujumbura, à emissora norte-americana CNN. “Houve disparos esta manhã. Agora há disparos a cada dez minutos.” Não era claro quem estava a disparar, ou quem estava a dominar a situação. “É um golpe ou não? – ninguém sabe.”

Há quem diga que os confrontos são entre militares que apoiam o Presidente e os que apoiam o general golpista, outros mencionam as milícias de apoio ao Presidente, outros falam da polícia. Um habitante de um bairro do centro disse que o seu bairro tinha sido aterrorizado pela polícia e pelas milícias, que dispararam contra as pessoas deixando alguns feridos. “Tenho medo que voltem esta noite.”

“Chamaria a isto uma tentativa de golpe – não sabemos se teve ou não sucesso”, resumiu o professor no King’s College de Londres Tim Stevens. “Ouvimos que há confrontos, ouvimos que há negociações. Não é nada claro.”

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