Governo invoca interesse público para se defender de acção contra venda da TAP
Decisão foi aprovada nesta quinta-feira em Conselho de Ministros e seguirá de imediato para o Supremo Tribunal Administrativo.
Este passo já era previsível e tem sido dado pelo Executivo noutras circunstâncias, como aconteceu recentemente perante o processo movido pela Câmara Municipal de Lisboa para impugnar a concessão da Metro de Lisboa e da Carris.
No fundo, ao invocar o interesse público, o Governo poderá prosseguir com a venda da companhia de aviação, se o tribunal aceitar como válida essa justificação. Caso os juízes dessem deferimento à providência cautelar, o caderno de encargos perderia a eficácia de imediato.
Tal como o PÚBLICO avançou na segunda-feira, o processo judicial em curso (do qual faz parte uma acção principal e uma providência cautelar, que o Supremo Tribunal Administrativo aceitou julgar na passada sexta-feira) foi movido pela Associação Peço a Palavra, o braço jurídico do movimento Não TAP os Olhos.
O promotor deste movimento, o cineasta António-Pedro Vasconcelos, explicou que a decisão foi tomada porque o caderno de encargos que serve de base à venda da transportadora aérea está “enfermado de ilegalidades e de cláusulas abusivas que serão impossíveis de cumprir pelo comprador”, o que coloca em risco a sua salvaguarda.
De entre as cláusulas que consideram ilegais está o requisito, imposto ao investidor privado no caderno de encargos, de manutenção da sede e da direcção efectiva da TAP em Portugal, bem como de salvaguarda do hub [placa giratória] de Lisboa e das obrigações de serviço público.
A associação, que na sexta-feira vai organizar uma conferência sobre as privatizações em Portugal, pretendia que o desfecho da providência cautelar fosse conhecido antes de a empresa ser vendida, visto que, mesmo que o comprador seja escolhido em breve pelo Governo, a transferência das acções só acontecerá nos meses seguintes.
António-Pedro Vasconcelos, que tem sido um dos mais activos contestatários à privatização da companhia, não coloca de parte a possibilidade de avançarem com novas acções para que o processo seja suspenso.
Entretanto, a venda vai avançando, estando já marcada para sexta-feira a entrega das ofertas de compra. O Governo tinha previsto escolher o vencedor até ao final de Junho.