Dois mundos
O segundo filme de Inês Oliveira nunca consegue muito bem explicar ao que vem.
Aliás, Bobô, que chega às salas num lançamento quase “contratual” dois anos depois de ter estreado no IndieLisboa, é um filme que dá a impressão de se procurar sem nunca verdadeiramente se encontrar, um pouco à imagem das suas personagens: uma arquitecta lisboeta que se encerrou num casulo depressivo à conta de uma tragédia familiar, e a empregada guineense que a mãe contratou à sua revelia. É Bobô, a filha desta última, que funciona como traço de aproximação destas duas mulheres, e possível porta de entrada para a questão escaldante, mas a verdade é que Inês Oliveira está muito mais interessada na relação entre Sofia e Mariama como metáfora possível do encontro entre dois mundos diferentes, num filme que passa a sua curta duração a lançar pistas que nunca explora a fundo e chega ao fim sem verdadeiramente explicar ao que vem. Há ideias visuais e solidez de interpretação, não há é uma estrutura (para já não falar de uma narrativa) que dê coesão ao filme — ficamos a pensar no que Lucrecia Martel teria feito com uma história destas.