Padre Mário da Lixa quer provocar "limpeza mental"
Novo livro de Mário de Oliveira, Fátima S.A., será lançado no próximo dia 22 de Maio, no Porto.
Logo em 2000, João Paulo II regressou ao santuário e beatificou os pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. “Nunca se tinha visto um Papa beatificar crianças”, sublinha. Volvidos dez anos, veio Bento XVI. O número de peregrinos não abrandou. “Fiquei muito frustrado.”
Desta vez, o presbítero partiu da análise dos primeiros dois volumes da Documentação Crítica de Fátima. O primeiro, de acordo com a informação disponível na página electrónica do Santuário, incide sobre “os acontecimentos da Cova da Iria, em 1917, a evolução do Santuário naquele lugar e a expansão da mensagem”. E o segundo sobre o processo canónico diocesano (1922-1930).
“Diz-se que o padre interrogava as crianças – as crianças não, Lúcia, as outras eram muito pequenas – e fazia o registo, só que o registo desapareceu”, refere. “Desapareceu ou nunca existiu? Temos de acreditar que outro padre copiou, palavra por palavra. É nisso que se apoia todo o resto.”
O conteúdo também lhe parece pouco credível: “Nossa Senhora não diz ao que vem. É Lúcia, a pequenita, que lhe vai fazendo perguntas e ela vai respondendo. Se Lúcia não lhe fizesse perguntas ela não falava?”
As “aparições” terão acontecido a cada dia 13, de Maio a Outubro. A 13 de Agosto, o governador de Ourém foi a Fátima ouvir os pastorinhos. “Disse ele que queria ir com eles, que também queria ver. Em vez de ir para a Cova da Iria, virou para a sua residência. Tinha crianças mais ou menos da idade deles. Eles passam lá uns dias. Não foram eles, não houve ‘aparição’? Por que não apareceu ela em Ourém?”
Na opinião de Mário Oliveira, as “aparições” foram inventadas pelo clero de Ourém. Havia uma luta local pela restauração da diocese de Leiria, recorda. A diocese foi restaurada em Janeiro de 2018. O bispo José Alves Correia da Silva consagrou-a à Virgem Maria e promoveu o fenómeno.
Não lhe parece um acaso que, durante os primeiros meses do que chama “teatrinho”, "a Senhora só tenha disto que era precisar rezar o terço". Havia uma forte reacção à instauração da República, que colocara o povo acima do clero. “As pessoas estavam a deixar de rezar”, sublinha.
O presbítero debruça-se sobre o primeiro e o segundo volume do livro Memórias da Irmã Lúcia, uma parte escritas em 1935, estava já ela num convento, e outra no final do século, estava já ela perto de morrer. Não acredita que alguém com a terceira classe, enclausurada desde Maio de 1921, devotada “à reza e a tarefas menores para não envaidecer”, pudesse escrever aquilo.
Na sua opinião, ninguém esperava tamanho fenómeno. Na sua opinião, a igreja perdeu o controlo. Espera ter "desmascarado tudo". Não lhe parece, porém, que seja possível voltar atrás. As "aparições" transformaram-se numa máquina de fazer dinheiro. “O turismo religioso já tomou conta daquilo tudo”.
Espera que a hierarquia católica, pelo menos, leia o seu livro, que dia 22 será apresentado no Porto, em local e hora ainda por definir, e pense. “Aquilo dá uma imagem penosa do que é a fé católica, uma imagem de sacrifício, de miserabilismo, de gente que procura a dor, o sofrimento, em vez de combater as suas causas”, diz. “Como homem de fé, acho que isso é uma indignidade”.