Confrontos na fronteira entre Iémen e Arábia Saudita põem cessar-fogo em dúvida

Rebeldes xiitas e coligação liderada pela Arábia Saudita concordaram em interromper os combates na terça-feira para permitir a entrada de ajuda humanitária no Iémen.

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Os conflitos no Iémen têm impedido a entrada de ajuda humanitária para uma população com graves carências Reuters

Os rebeldes xiitas atingiram duas cidades sauditas, Jizan e Najran, na fronteira Sudoeste do país. De acordo com a Reuters, os huthis actuaram em retaliação ao bombardeamento das províncias de Saada e Hajjah, que foram atingidas com 150 rockets lançados a partir do território saudita. Na véspera do cessar-fogo, registaram-se ainda ataques aéreos da coligação de 10 países islâmicos sobre Taiz, uma das principais cidades no Iémen, e na província de Marib, a leste da capital Sanaa.

A proposta de um cessar-fogo que permita a entrada de ajuda humanitária no Iémen foi anunciada na quinta-feira pelo Governo saudita, após um encontro entre o secretário de Estado norte-americano John Kerry e os aliados dos Estados Unidos no Golfo. No domingo, os rebeldes xiitas huthis aceitaram a proposta, ao comunicar que receberiam “positivamente” qualquer esforço que “ajude a aliviar o sofrimento e a permitir socorro”.

Os huthis recusaram-se a negociar com Riad e disseram que apenas o fariam através das Nações Unidas. Não houve, portanto, nenhum acordo formal. Mas a proposta saudita deixou a porta aberta para que o cessar-fogo entrasse em vigor caso os rebeldes o cumprissem a partir das 23h de terça-feira.

A comunidade internacional tem multiplicado os apelos por um cessar-fogo desde que a coligação de países islâmicos começou a bombardear posições rebeldes no Iémen, a 26 de Março, como resposta ao avanço destes no terreno e à queda do Presidente Abdu Mansour Hadi, entretanto exilado em Riad. Estes ataques têm dificultado a entrada de assistência humanitária no Iémen, país onde o acesso a alimentação, água potável e cuidados médicos é já difícil em tempos de paz. Há neste momento 20 milhões de iemenitas que passam fome

No domingo, um grupo de 17 organizações humanitárias disseram que uma pausa de cinco dias nos confrontos não seria suficiente para socorrer todos os afectados pelo conflito no Iémen. Kerry reforçou na quinta-feira que o cessar-fogo é renovável, mas poucos acreditam que os confrontos entre huthis, que recebem apoio do Irão, e a coligação árabe se irão apaziguar num futuro próximo.

Saleh alia-se aos huthis
Os combates atingiram o pico da intensidade nesta segunda-feira, mas os bombardeamentos da coligação liderada pela Arábia Saudita já se tinham intensificado ao longo dos últimos dias. Esta ofensiva tem sido interpretada como uma tentativa de infligir o máximo dano possível aos huthis e seus aliados no terreno antes que uma trégua possa ter início.

Os ataques deste fim-de-semana atingiram com severidade a residência do antigo Presidente do Iémen, Ali Abdullah Saleh, que até agora tem sido um aliado não declarado dos rebeldes xiitas – há relatos que estes têm combatido com o apoio de milícias leais ao antigo Presidente.

Os ataques mataram três pessoas mas deixaram o ex-Presidente ileso. Os sauditas falharam o alvo principal, mas produziram um efeito inesperado: Saleh declarou pela primeira vez o seu apoio formal aos rebeldes huthis e reduziu também as probabilidades de um cessar-fogo começar na terça.

“Devem continuar armados, prontos a sacrificarem as vossas vidas lutando contra estes ataques beligerantes”, disse o antigo Presidente a uma televisão iemenita. 

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