Esta mochila sustentável é uma homenagem às Aldeias do Xisto
Projecto desenvolvido no IADE utiliza materiais comuns e sustentáveis da Aldeia da Figueira, na Beira Baixa. “Figueira Memory” é uma mochila, um saco, uma toalha de piquenique e um banco. Protótipo foi apresentado em feira na Alemanha
Lembra um objecto militar, pelas cores e pelo formato, mas é uma mochila sustentável feita com materiais portugueses, pensada para homenagear o património local das Aldeias do Xisto, na Beira Baixa. Tem quatro funções — todas relacionadas com a vida em comunidade na Aldeia da Figueira — e a ambição de impulsionar o desenvolvimento do turismo na região.
A “Figueira Memory” — assim se chama a mochila — foi desenvolvida por três jovens alunos (João Neves Correia, Tomas Veríssimo e Giuseppe Sardone) e duas docentes (Ana Margarida Ferreira e Catarina Lisboa) do IADE — Creative University. Os estudantes e as professoras aceitaram o convite do projecto Agricultura Lusitana, promovido pelas Aldeias do Xisto, que desafiou 150 pessoas, 22 ateliês e nove escolas de design portuguesas a promoverem “a identidade e cultura nacionais” através de produtos.
Foram várias as viagens que os criadores da mochila fizeram entre Lisboa e a Aldeia da Figueira, para conhecerem as pessoas e as tradições locais. Contaram com a ajuda da guia Joana Pereira, que funcionou como interlocutora no terreno, e concluíram que uma mochila era o objecto ideal para representar a aldeia e a região. “Sabíamos que o produto tinha que transmitir alguns conceitos: natureza, harmonia e relação com a comunidade”, explicou Ana Margarida Ferreira ao P3. Chegaram à “Figueira Memory” após um “levantamento das questões importantes do dia-a-dia das Aldeias do Xisto, nomeadamente a ida à feira, os passeios e o dia no campo” e terem encontrado um conceito que que “ajuda e reforça a acção mais dinamizadora de hoje” — o turismo.
Mochila, toalha, banco e saco
Tal como a ideia para o produto, também a escolha dos materiais — linho, cortiça (com propriedades térmicas), pele (resistente) e madeira de pinho — teve como ponto de partida “as pessoas e os seus saberes”. A mochila pode ser transformada em banco, em toalha de piquenique e em saco. A multifuncionalidade “resulta do facto de ser prática constante nestas aldeias a reutilização dos materiais”, justifica a docente de Design, para quem a memória também deve ser cumprida, em relação com o contexto natural. “A toalha, por exemplo, tem molas à volta, de maneira a poder unir a toalha de outras pessoas que juntem”, revela. “São pequenos pormenores que têm que promover e encerrar em si todos os valores da região” — no caso, o sentido de comunidade.
Nas visitas à aldeia, Ana Margarida notou um “deslaçar social”. “Muitas destas pessoas têm uma idade avançada e, apesar de terem este saber, não o transmitiram às gerações seguintes, com outras dinâmicas de vida”, reflecte. Daí a importância de projectos do género para o registo do património e desenvolvimento do turismo nas próprias aldeias.
A equipa que criou a mochila ainda não conseguiu regressar à Aldeia da Figueira para mostrar o resultado final aos habitantes. Isto porque, no último mês, se dedicou a ultimar o protótipo que esteve em exposição na Eunique 2015 — Feira Internacional para Artes Aplicadas e Design, na cidade alemã de Karslruhe, nos últimos dias. A “Figueira Memory”, juntamente com os outros projectos da iniciativa Agricultura Lusitana 2015, ficará em Estugarda até 10 de Junho, para a comemoração do Dia de Portugal.
“Temos identificadas as pessoas, na Aldeia da Figueira e à volta dela, que podem vir a produzir a mochila. Este é o nosso compromisso, numa lógica de empreendedorismo social”, assegura Ana Margarida, que gostava de ver o produto a ser comercializado. “Pode ser uma ferramenta para tornar o conhecimento destes materiais e saberes mais apetecível para a gente nova.”