Trabalhistas iniciam corrida à liderança na sombra do New Labour
Tony Blair voltou ao debate político britânico e apelou a um regresso do partido ao centro. Os candidatos da sua ala já se começaram a perfilar.
Chuka Umunna, Tristram Hunt e Liz Kendall surgiram em várias entrevistas ao longo do dia – as mais importantes foram dadas à BBC – e disseram estar disponíveis para liderar o Partido Trabalhista. Apenas Liz Kendall, a ministra-sombra da Saúde, o declarou oficialmente, antes mesmo de ir para os estúdios da emissora britânica. Mas o discurso de Chuka Umunna e Tristram Hunt era já de campanha.
Chuka Umunna, ministro-sombra da Economia e, dos três, o que surge mais destacado para vencer as eleições primárias dos trabalhistas, disse que não o anunciaria antes de haver um calendário interno. Mas, em seguida, apontou: “Tenciono certamente representar o maior papel que conseguir na reconstrução do nosso partido.”
Algo semelhante ao que disse Tristram Hunt, ministro-sombra da Educação. Referindo-se a uma nova liderança para depois da derrota eleitoral, admitiu que quer estar presente: “Quero realmente ser uma dessas vozes”.
Os três aspirantes fazem parte da nova geração da ala mais à direita do Partido Trabalhista, próxima do ex-primeiro-ministro Tony Blair, que neste domingo regressou à cena política para deixar um aviso à navegação: “O caminho para o cume jaz no centro do terreno”, escreveu o ex-primeiro-ministro no Observer.
A sombra de Blair já se tinha feito notar na derrota do Labour. Blair não é apenas o líder trabalhista das mais importantes vitórias desde a década de 60, o antigo primeiro-ministro é também a principal cara do New Labour e da saída do partido para fora das linhas tradicionais da esquerda europeia.
A campanha de Miliband, por sua vez, fez rumar o partido novamente para a esquerda, ao escolher o tema da desigualdade económica como a sua linha principal de argumentação. Não apenas isso: Miliband evitou falar sobre o registo económico dos governos trabalhistas, quer para o defender, quer para admitir eventuais erros do passado, um dos pontos-chave do discurso tory.
Chuka Umunna, Liz Kendall e Tristram Hunt quiseram descolar de Miliband e falar directamente para a classe média e empresas britânicas, dois grupos que, dizem, Miliband não conseguiu atingir. “Não creio que eles achassem que estávamos do lado deles”, resumiu Tristram Hunt.
Esta foi a mensagem consensual dos três trabalhistas. “Falámos sobre a base e o topo da sociedade”, escreveu Umunna num artigo publicado neste domingo no Observer, “mas tivemos muito pouco a dizer à maioria das pessoas no meio”.
Umunna e Hunt não hesitaram em utilizar as credenciais do New Labour. Surgiram ambos em programas com um dos arquitectos do processo, Peter Mandelson, que, de todos os trabalhistas que neste domingo falaram sobre as eleições, foi o único a criticar de forma clara Miliband – Blair gabou-lhe a coragem e os três aspirantes utilizaram sempre um tom conciliatório perante o ex-líder.
Desde 2010 que Mandelson tem criticado a liderança trabalhista por não aproveitar o New Labour e, voltou a repeti-lo. “A razão pela qual perdemos, e perdemos tão gravemente, foi porque em 2010 descartámos o New Labour em vez de o revitalizar.” Foi um erro “terrível” de Miliband, disse Mandelson, que o acusou ainda de ter usado um chavão “completamente inútil” quando fez uma distinção entre “predadores” e “produtores”, num discurso sobre a esfera empresarial britânica.
Na entrada em cena dos três trabalhistas na corrida pela liderança, apenas Liz Kendall resistiu a ser identificada com o New Labour e com a governação do estilo de Tony Blair. “As palavras New Labour significam coisas diferentes para pessoas diferentes e eu acho que regressar ao passado não é aquilo que precisamos”, disse na BBC.