Dois americanos e um australiano decidiram o rumo das eleições britânicas
Ex-conselheiros de Barack Obama geriram a campanha dos tories e dos trabalhistas. Mas foi um australiano que decidiu o jogo a favor de Cameron.
Os conselheiros destas eleições eram verdadeiras estrelas das campanhas eleitorais. Os norte-americanos Jim Messina e David Axelrod foram ambos conselheiros próximos de Barack Obama. Axelrod foi conselheiro-chefe da campanha de 2008 e Jim Messina foi o gestor da campanha de 2012. Mas nestas eleições britânicas estiveram em lados opostos. Messina venceu com os conservadores e Axelrod perdeu com os trabalhistas.
E porquê? No rescaldo da surpreendente maioria absoluta de Cameron, a explicação mais comum é a de que Cameron acertou na mensagem positiva de que a economia estava em franco crescimento e no alerta assertivo de que os ingleses podiam passar a ser governados por uma coligação de nacionalistas escoceses e trabalhistas. Já Miliband não conseguiu fazer passar para os eleitores os grandes temas da desigualdade crescente e de que a classe média estava a ficar para trás.
“Todas as eleições são sobre o futuro, especialmente um futuro económico”, disse na sexta-feira Jim Messina à televisão norte-americana. David Cameron, triunfante, resumiu a ideia da sua campanha eleitoral no discurso de vitória de sexta-feira: “Tivemos uma resposta positiva a uma campanha positiva”.
A aposta de Axelrod pelo lado trabalhista não foi tão eficaz. Miliband, que foi sempre encarado pelos britânicos como um líder partidário imperfeito e menos competente do que Cameron, concentrou-se em grandes temas e em grandes gestos que não passaram para a população. “Não temos de ir muito longe numa conversa com conselheiros trabalhistas para encontrarmos alguém que pensa que os conselhos de Axelrod não foram muito úteis”, diz à Bloomberg Philip Cowley, professor de Ciência Política na Universidade de Nottingham.
Crosby, o australiano
Apesar da influência dos norte-americanos, é Lynton Crosby quem é visto por muitos como o arquitecto da vitória tory. Na sexta-feira, o diário britânico Guardian escrevia sobre este conselheiro australiano de Cameron: “Crosby, o homem que realmente venceu as eleições.”
E não foram as primeiras. Crosby esteve nas vitórias dos liberais australianos na década de 90 e, já no Reino Unido, foi decisivo nas vitórias do presidente da Câmara de Londres, Boris Johnson, em 2008 e 2012.
O australiano compreendeu antes de todos a importância do sentimento nacionalista escocês para a campanha conservadora. Foi Crosby, como escreve o Guardian, que pela primeira vez pensou em utilizar os escoceses “como uma fenda que poderia ser utilizada contra os trabalhistas, na Escócia e na Inglaterra”.
O sucesso foi enorme. Numa entrevista ao site Politico, na quarta-feira, véspera do dia de eleições, o próprio David Axelrod admitiu que o papel do Partido Nacional Escocês (SNP) foi bem utilizado pelos conservadores. Afinal de contas, nestas eleições o SNP ganhou 40 deputados aos trabalhistas e deu a David Cameron a oportunidade de lançar o alarme para os eleitores em Inglaterra de que se arriscavam a ser governados por uma coligação de trabalhistas e nacionalistas.
“A única coisa que os [conservadores] fizeram e que foi particularmente perspicaz foi terem insistido que todos os partidos deveriam participar no debate”, disse David Axelrod ao site europeu da Politico. “Fizeram-no porque quiseram dar ao SNP uma plataforma, e o resultado é o que vemos hoje”, concluiu. Os debates televisivos foram onde que mais se destacou Nicola Sturgeon, a líder dos nacionalistas escoceses, que se transformou numa figura nacional, quando ants não era conhecida fora da Escócia.
Mas esta não foi a única boa decisão de Crosby. Terá sido o australiano quem decidiu limitar a campanha de Cameron a apenas dois temas: recuperação económica e perigos do nacionalismo escocês. Uma escolha que, escreveu o Times, terá inquietado o próprio primeiro-ministro.
Mas Crosby estava novamente certo. “Talvez o melhor de todos os truques de Crosby tenha sido o de dar a entender que a campanha tory não estava a funcionar”, escreve o Guardian, quando na verdade estava a funcionar disfarçadamente.