"Peso da violência conjugal acaba por sobrepor-se à violência sobre as crianças"

Os casos de violência sobre as crianças estão a aumentar?
Os casos recentes são muito dramáticos. Dão uma maior visibilidade a este fenómeno mas não significa que estejam a aumentar. O importante é pensar: o que vamos fazer a partir daqui? E procurar fazer uma reflexão global. É preciso reflectir sobre os modelos implementados em Portugal de promoção e protecção das crianças. Ver como estão a funcionar as comissões de protecção e perceber quais as dificuldades com que se deparam no dia-a-dia. Podemos sempre fazer mais e melhor, obviamente. Estes técnicos que trabalham nas comissões fazem um trabalho louvável todos os dias, mas há que parar um pouco, tirar a fotografia, e ver o que é preciso fazer mais.

Não é apenas um problema de falta de recursos nas comissões?
Eu penso que a questão da falta de recursos tem que ser equacionada. Mas o foco da atenção também tem que estar nestas situações de violência sobre as crianças. Talvez nos últimos anos, o foco da atenção tenha estado na violência conjugal, na violência sobre as mulheres. Estes casos dramáticos também podem despertar a nossa atenção para repensarmos as estratégias que estão a ser adoptadas nesta área das crianças e dos jovens. E para vermos se podemos melhorar algo, vermos o que já é feito, o que é preciso melhorar, e se existem questões legislativas para melhorar ou não. E isto também relativamente à violência sobre os idosos. Estas situações servem para alertar consciências. Porventura algumas realidades têm estado menos visíveis, menos reflectidas, na comunicação social, e estes casos recentes trazem-nas para a ordem do dia. 

A violência conjugal ocultou a violência sobre as crianças?
Muitas vezes o peso da violência conjugal acaba por se sobrepor à realidade da violência sobre as crianças e sobre os idosos. A violência doméstica abarca tudo isso. Talvez sejam necessárias estratégias específicas na área das crianças, na área dos idosos.

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