Homem de 101 anos resgatado uma semana após o terramoto no Nepal
Equipas de socorro encontraram-no entre os escombros da sua casa, com ferimentos ligeiros. Três mulheres foram também encontradas com vida, mas a situação no Nepal é cada vez mais caótica.
Até ao momento foram encontrados 7056 corpos, mas o general nepalês Gaurav Rana, que coordena as operações de socorro, diz que podem ter morrido 10.000 pessoas – o número repetido com mais insistência nos últimos dias. Mas também podem ter morrido 15.000, disse o mesmo responsável.
As equipas de socorro só agora começam a chegar a algumas das zonas mais remotas, que já eram de difícil acesso antes de o terramoto de magnitude 7,8 ter atingido o coração de um dos países mais pobres do mundo, há oito dias.
"O tempo é um inimigo, mas a falta de recursos é também algo que nos preocupa muito neste momento", disse o general nepalês ao canal norte-americano NBC. Gaurav Rana respondeu também às acusações de que as autoridades do país não estão a fazer tudo o que podiam para facilitar a chegada de ajuda humanitária aos oito milhões de pessoas afectadas pela catástrofe: "É mentira. Mas é compreensível que as pessoas respondam dessa forma quando não recebem ajuda em tempo útil."
À dimensão da catástrofe natural juntam-se as dificuldades de acesso a áreas remotas, a falta de meios e o excesso de burocracia na entrada de ajuda humanitária no país, uma acusação lançada pela ONU no sábado.
As autoridades do país defendem-se das acusações de lentidão na entrega da ajuda com os mesmos argumentos – mais do que incompetência ou falta de coordenação, é a dimensão da catástrofe e a falta de meios que têm atrasado a chegada de bens essenciais às zonas mais remotas, e também mais afectadas pelo terramoto. Quanto ao excesso de burocracia, o Governo local suspendeu a cobrança de taxas para a entrada no país de lonas e tendas na sexta-feira, mas diz que tem de inspeccionar todos os carregamentos que chegam ao aeroporto de Katmandu.
Para agravar ainda mais este cenário, a única pista do único aeroporto internacional do país começou a ceder ao peso da aterragem de aviões militares de carga, e agora só é permitida a chegada de aeronaves mais leves. Além dos voos com ajuda humanitária, foram vários os aviões que aterraram no aeroporto internacional de Katmandu na última semana, com voluntários, funcionários de organizações internacionais e jornalistas. O responsável pelo Aeroporto Internacional de Tribhuvan, Birendra Shrestha, disse que a pista não está preparada para receber gigantescos aviões militares e que só tem capacidade para manter no solo nove aviões de cada vez.
Idoso resgatado com ferimentos ligeiros
Os quatro sobreviventes foram resgatados nos distritos de Sindhupalchok e Nuwakot, a algumas dezenas de quilómetros da capital, Katmandu, mas a uma distância que tem sido quase impossível de percorrer pelas equipas de socorro devido aos deslizamentos de terra e ao mau tempo. A forma mais rápida de distribuir água e comida, e de procurar sobreviventes e recolher corpos, é através de helicóptero, mas as operações de ajuda de maior envergadura – como a dos Estados Unidos – só começaram a chegar ao terreno este fim-de-semana.
Um dos sobreviventes é um homem com 101 anos, que foi resgatado dos destroços da sua casa, no distrito de Nuwakot, 80 quilómetros a noroeste de Katmandu.
O homem, identificado como Funchu Tamang, foi encontrado no sábado com ferimentos ligeiros e está a recuperar num hospital da região, disse à agência AFP o responsável pela polícia local, Arun Kumar Singh. "Foi levado para o hospital distrital de helicóptero. A situação dele é considerada estável. Tem ferimentos no tornozelo esquerdo e numa das mãos, e está junto da sua família", disse o mesmo responsável.
As equipas de socorro encontraram também três mulheres, já neste domingo, no distrito de Sindhupalchok. Duas delas estavam debaixo dos destroços do que restou das suas casas, e uma terceira foi encontrada parcialmente soterrada após um deslizamento de terras.
Enquanto as cada vez mais raras boas notícias chegavam do distrito de Sindhupalchok – um dos mais pobres do país e um dos mais afectados pelo terramoto –, as más notícias continuavam a chegar às dezenas ainda mais a Norte, junto à fronteira com o Tibete, no distrito de Rasuwa.
Foi aí que as equipas da polícia do Nepal encontraram, também nas últimas horas, os corpos de pelo menos 50 vítimas de uma avalancha provocada pelo terramoto.
É neste distrito do Nepal que se localiza o Parque Nacional de Langtang, onde viviam cerca de 4500 pessoas, e de onde têm saído poucas notícias desde o terramoto. Um dos responsáveis pelas agências de turismo locais, Ganga Sagar Pant, disse à agência Reuters que a localidade de Langtang, com o seu meio milhar de habitantes e 55 residenciais, praticamente desapareceu – e ninguém sabe quantas pessoas estavam lá hospedadas no momento da avalancha.
"Só restam pertences espalhados por todo o lado, como mochilas e casacos, todas as casas foram atiradas montanha abaixo. Não resta nada. Acho que ninguém sobrevive a uma coisa destas."
Sendo o Nepal um dos destinos turísticos mais procurados na região, o terramoto e as avalanchas fizeram também vítimas de outras nacionalidades, para além dos vários milhares de mortos entre a população nepalesa. Até ao momento foram encontrados 70 corpos de cidadãos estrangeiros, a maioria indianos (30), mas também chineses, franceses, italianos, alemães ou espanhóis, entre outros – ao todo, 19 cidadãos de países da União Europeia, dez deles franceses.
Um número que irá também certamente aumentar nos próximos dias, disse à agência Reuters Tulsi Prasad Gautam, responsável pelo turismo do Nepal. "O número de vítimas estrageiras no Nepal vai aumentar porque há um número significativo de desaparecidos na região de Langtang", com as estimativas a apontarem para duas centenas.