“Estava na altura”. Foi assim que Patrick Hutsch, criador do festival “Hip hop Sou Eu”, justificou a reunião de diferentes nuances da cena do hip-hop português.
A plataforma, com o mesmo nome e 38 mil “likes”, está a ganhar cada vez mais “relevância para todos os amantes do estilo”. Assim, tornou-se interessante fazer a transição do meio “online” para um espaço como o Coliseu dos Recreios.
Por outro lado, era “o momento ideal” para Lisboa receber nomes como Dillaz ou Jimmy P ao lado de Sam the Kid ou Mundo Segundo. “Não quisemos pegar nos quatro ou cinco nomes da linha da frente”, comentou ao P3.
Ligando a “new school” à “old school” de forma propositada — o que permite que artistas emergentes pisem o palco do Coliseu — o festival propôs-se a ultrapassar as barreiras da música e conseguiu mostrar que este movimento urbano “está vivo e de boa saúde”, acrescenta o produtor.
A prova dos nove foi tirada com a abertura do trio MGDRV, com músicas como “Salta só” até porque “quem não salta nesta dica mete dó”, seguindo-se Profjam (aviso à navegação: não é ele quem faz "hip-hop", mas sim o público presente). Já com Plutónio o som balançou entre a “punch line” mais demarcada e histórias de amor em forma de canção.
Bispo com a avó
Com o público já bem aquecido, segue-se Bispo que garantiu um novo álbum para breve e marca a noite com o momento mais peculiar: a avó acompanhou as letras do neto no palco. Já o desfile de músicas de Grognation ficou marcado pela estreia do novo EP e houve direito a vários hinos com mãos no ar. Seguiu-se Tekilla e o Dj Madruga que a meio da actuação afirmou ter um dos melhores álbuns da década — dentro do género: "Não estou a ser convencido, estou muito orgulhoso do meu novo trabalho."
A segunda parte do espetáculo arrancou com Dillaz que mostrou o seu reportório sempre acompanhado pelas fãs, como “Não sejas agressiva” ou “Paga pra ver”. Nesta primeira edição do festival, o “rapper” fez questão de abandonar o palco com uma mensagem longa de agradecimento a todos os presentes e participantes deste projecto.
Já Jimmy P, bem conhecido do universo do hip-hop mais actual, anunciou que foi para celebrar o hip-hop nacional. Os presentes aceitaram a proposta com “Foge de mim” ou “On fire”, o seu o mais recente single do álbum “Fvmily F1rtst”; finalizou com “Amigos ou amantes”, cantada com a ajuda do público que aplaudiu a versatilidade do rapper portuense.
O momento mais esperado da noite: os embaixadores do hip-hop do Norte e Sul juntos em palco com um álbum em preparação que já foi parcialmente aberto aos fãs através do novo hit “Tu não sabes”. Mas houve tempo para mais: “Bom Dia” juntou Maze ao palco e é na “Escola dos 90” que se relembram os primórdios dos Dealema. Em “Bate Palmas”, Deau ficou representado em palco, mas foi com “Brilhantes diamantes” que todo o público viajou no tempo.
Como seria de prever, “Gaia e Chelas” é um dos marcos da noite, não fosse a primeira música em conjunto dos dois. Para Sam, actuar com o rapper do Norte foi “uma decisão natural”, mas acima de tudo uma questão de “timing”. “Tinha que ser agora”. O “rapper” dos Dealema confirmou e acrescentou: “ Somos apenas dois, o pensamento flui bem com ele".
Entre faixas, Sam mostra que sozinho também é capaz com o clássico “Sofia” acompanhado de Mundo Segundo que afirma que o público “deu a gasolina necessária” para que os dois acabem de "cozinhar" o disco que ainda não tem nome. Já depois da uma da manhã, é com “Era uma vez” que o festival encerra. Para o ano (consta), a história repete-se.