Um retrocesso chamado rádio digital

Mas qual é, afinal, o sucessor que vai tirar o FM do pódio das formas de ouvir rádio? O Digital Audio Broadcasting, mais conhecido por DAB

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James Cridland

A Noruega vai desistir das emissões de rádio em FM dentro de pouco mais de dois anos. O espectro mais utilizado atualmente em todo o mundo, sobretudo pela qualidade de som comparável a de um CD e pelos custos baixos de manutenção, deixará assim de ser usado naquele que é, talvez, o país mais desenvolvido do mundo.

Mas qual é, afinal, o sucessor que vai tirar o FM do pódio das formas de ouvir rádio? O Digital Audio Broadcasting, mais conhecido por DAB, trata-se de um sistema equivalente ao que existe, por exemplo, na Televisão Digital Terrestre, na medida em que uma só frequência permite sintonizar várias estações de rádio. As vantagens prendem-se com uma melhor qualidade de som e uma maior estabilidade na sintonização. Perante tal novidade, perguntarão muitas pessoas: “Então e por cá? Quando poderemos ouvir rádio da mesma maneira?” A resposta poderá chocar os mais sensíveis: Já houve rádio digital em Portugal.

Tudo começou em 1998. A Rádio Difusão Portuguesa (RDP) montou à época uma rede de emissores DAB para cobrir a grande Lisboa e demonstrou as emissões das suas rádios em digital na Expo98. Estava assim aberta a expansão da rádio digital em Portugal. Daí até 2011, mais de metade do país foi brindado com as emissões digitais de rádios como a Antena 1, Antena 3 ou a RDP Internacional. Porém, o sonho de uma rádio toda ela digital terminou justamente no ano em que a troika chegou a Portugal pela terceira vez. Obrigada a reduzir custos de operação, a rádio pública optou por desligar o sistema DAB, invocando elevados custos de manutenção e pouca gente a usufruir do mesmo. Agora, com a decisão da Noruega a agitar as águas do panorama radiofónico e com a descoberta de que foram “torrados” 11 milhões de euros no DAB no nosso país, porque é que tudo isto não vingou? Como é que conseguimos regredir no que ao futuro da rádio diz respeito?

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Pedro Afflalo é estudante de Ciências da Comunicação mas já quis ser médico e engenheiro de tudo e mais alguma coisa

Pergunto agora a todos os leitores: quantos de vocês sabiam que o DAB existiu em Portugal? Quem é que experimentou alguma vez ouvir uma rádio sem ser online, na TV, em FM ou em onda média? Acima de tudo, faltou divulgação. Faltou força de vontade para incentivar os ouvintes a experimentarem uma forma de ouvir rádio com mais qualidade e comodidade. Esta falta de força de vontade revelou-se gritante quando o operador preferia emitir áudio-descrição de programas televisivos através da onda média, em vez de optar pelo DAB. Assim se formou um círculo: como pouca gente conhecia o DAB, o interesse por rádios com esta tecnologia era fraco. E se era fraco, as lojas não apostavam na venda destes equipamentos. Como não se vendiam, a razão de existir do DAB era posta em causa.

Em suma, a rádio digital em Portugal correu mal. A única esperança para o DAB no nosso país é a cada vez maior aposta na tecnologia pela Europa, e um eventual aproveitamento do investimento que foi feito. Até lá, continuamos em sentido oposto à tendência internacional.

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