Pena: Esta é uma daquelas aldeias que nunca mais acabam

Proprietários vão receber projectos de arquitectura “grátis” para transformar casas abandonadas de aldeia típica da Serra de S. Macário em espaços de ecoturismo.

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A aldeia quer preservar o espírito do lugar para se reinventar: há muitas casas abandonadas Nelson Garrido

Aqui, há muitas décadas que as gentes da terra partiram para outros lugares. Fugiram do isolamento. As casas foram ficando vazias e entregues ao tempo. Algumas foram recuperadas e dotadas de todas as condições e são refúgios de férias ou de fins-de-semana. Outras, continuam à espera dos que podem regressar.

A pensar na preservação da Aldeia da Pena e na falta de locais de estadia prolongada num local que é cada vez mais procurado pelo turismo de natureza, a Câmara de S. Pedro do Sul, através de um protocolo assinado com a Universidade da Beira Interior, decidiu avançar com a iniciativa de agilizar a recuperação. Os projectos são feitos pelo departamento de Arquitetura da Universidade, ficam na posse da autarquia e são disponibilizados gratuitamente aos proprietários que podem ou não avançar com o investimento. 

O levantamento das casas para serem transformadas em turismo rural está a ser feito no âmbito de uma dissertação de mestrado e conta com a orientação do arquitecto António Baptista Coelho e do professor Luís Ferreira Gomes. No objectivo final, segundo os orientadores, além das habitações para pequenos albergues, está também “a preservação e dinamização de alguns espaços públicos da aldeia, tendo sempre como finalidade a componente turística”.

“No fundo, é utilizar tudo o que existe, o que já foi feito e acrescentar valor ao que já lá está. Respeitando a tipologia dos edifícios, os materiais de construção e o espírito do lugar, conseguiremos fazer intervenções num local que tem características que são difíceis de encontrar em qualquer outro lugar”, salienta António Baptista Coelho.

Segundo o vereador na Câmara de S. Pedro do Sul, Pedro Mouro, esta foi uma das formas encontradas de “não deixar degradar a aldeia” e criar oferta numa zona geográfica que compreende o maciço das serras da Arada, Gralheira e S. Macário.

Voltar à aldeia
Nem todos se aventuram pela íngrime estrada que leva ao fundo do vale e à Aldeia da Pena. Quem tem coragem acaba por chegar até a uma jóia quase em bruto, embora personalizada pela “mão do homem”.

Nas pequenas casas de xisto moram apenas sete pessoas que ocupam duas habitações, mas engane-se quem pensa que a povoação vai desaparecer. “Esta é daquelas aldeias que nunca acaba”, assegura António Arouca, um dos habitantes que escolheu regressar às origens depois de se reformar e de ter passado uma vida em Lisboa. Este “amante da natureza” e “guia turístico” da Pena não se arrepende da escolha que fez. Recusa ficar parado. Enquanto a esposa se dedica a bordar panos ou a tricotar meias de lã para vender na pequena casa de artesanato da aldeia, António Arouca divide o seu tempo entre a caça, a pesca, a agricultura e a apicultura. “Sou o único produtor do mel da Pena, o verdadeiro produto endógeno”, sublinha.

E, como António Arouca, já há quem veja esta aldeia como o seu “lar” no futuro. “É a segunda geração que agora também começa a olhar para a povoação com outros olhos”, sublinha satisfeito. Para quem está a pensar nos dias de sossego da reforma, o morador deixa o conselho: “voltem às aldeias de onde partiram para serem de novo meninos”.

É na esplanada do café/restaurante da Aldeia da Pena que os visitantes são recebidos. À sua espera, petiscos (chouriço, queijo, broa de milho), boa disposição dos proprietário, um papagaio e um espaço ocupado por pequenas réplicas das casas da aldeia, terços, mel, notas, papéis e sinos de vários tamanhos. Há 16 anos que Ana Brito e o marido decidiram ficar na povoação onde tinham familiares. Voltaram, não para serem de novo meninos, mas para encontrarem o seu projecto de vida. Foram eles os únicos habitantes durante anos. “Vínhamos cá e percebemos que havia aqui uma oportunidade de negócio porque a aldeia tinha visitantes mas nenhum sítio onde se comer”, conta. O casal não mais deixou a aldeia e ficou por “paixão”. As duas filhas acabaram por aqui nascer e é onde querem continuar a viver. Os quatro, mais a avó do casal, a que se juntam António Arouca e a esposa Maria Augusta fazem respirar a Aldeia da Pena.

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