Diogo Morgado, o hot Jesus, é agora um homem diabólico
O actor português é o protagonista da nova série do canal norte-americano CW. The Messengers estreia-se esta semana em Portugal. O PÚBLICO falou com o actor.
Nos últimos dois anos, Diogo Morgado tem vivido entre Portugal e os Estados Unidos. É por cá que tem trabalho regular, mas é por lá que o actor tem apostado a sua carreira. Não é o sonho de Hollywood que o desafia, antes a vontade de se pôr à prova, de experimentar coisas novas e de aprender sempre mais. Se é por lá que isso acontece, é por lá que ele fica. “Mas se surgir alguma coisa em Portugal interessante e que eu sinta mesmo que valha a pena e que eu possa de alguma forma ajudar, é claro que eu vou”, diz o actor ao PÚBLICO, ao telefone desde os Estados Unidos. "Vou andando em função daquilo em que sinto que posso fazer mais diferença ou daquilo com que de alguma forma possa aprender mais”, continua. “O que é certo que as coisas que estão a surgir nos Estados Unidos, ou que eventualmente estejam em cima da mesa como potenciais projectos, são de facto interessantes.”
O maior projecto em mãos neste momento é o papel principal da série de fantasia The Messengers, produzida pelo canal CW, responsável por séries como Gossip Girl, Vampire Diaries ou Arrow. Aqui, Diogo Morgado é The Man (O Homem), uma pessoa misteriosa sobre a qual pouco se sabe. É alguém que está no controlo de toda a história. Um homem sinistro que vê nas pessoas as suas marionetas. Uma figura diabólica que joga tudo o que sabe sobre os outros em seu favor. Não olha a meios para atingir os fins. Jesus nunca esteve tão longe daqui.
“É engraçado porque eu estava à procura de um papel que fosse eventualmente oposto àquilo que eu tinha feito n’A Bíblia. Não estava à procura dos maus da fita, mas sim de uma coisa que fosse menos luminosa, menos inspiradora, mais rebuscada e mais complexa. E acabei por tropeçar nesta série, neste personagem”, conta o actor, explicando que Eoghan O'Donnell, o homem por trás de The Messengers, quis que o actor português lesse uma personagem. Foi ao casting, participou no episódio-piloto e ficou. “Fiquei fascinado”, diz Diogo Morgado, para quem “é um exercício brutal” como actor ter a oportunidade de representar papéis tão distintos.
E não deixa de ser interessante, garante, perceber o que é que o “tipo que fez de Jesus” tem agora a dizer sobre o lado mau da humanidade. “Há até muita coisa neste processo que vou buscar à Bíblia e a O Filho de Deus. As nossas fragilidades, os nossos medos, os nossos receios acabam por ser idênticos aos de há dois mil anos”, afirma. “Os nossos problemas, aquilo a que aspiramos, aquilo que nós sonhamos, as nossas inseguranças são os mesmos. E este meu personagem, O Homem, alimenta-se disso. Assim que vê uma sombra de fraqueza, é logo ali que ele vai atacar."
Nos Estados Unidos há quem diga que, apesar de fantasiosa, The Messengers é uma série religiosa, ou não fosse esta uma história do Apocalipse. Diogo Morgado diz que não. Aqui há anjos que não representam entidade nenhuma, são apenas humanos com poderes sobrenaturais. E o bem e o mal confundem-se na maior parte das vezes. Tudo começa quando um objecto não identificado colide com a Terra num deserto dos Estados Unidos, produzindo uma estranha onda que atinge cinco pessoas sem ligação entre si: a cientista Vera Buckley (Shantel Van Santen), o pastor religioso Joshua Silburn (Jon Fletcher), o agente federal Raul Garcia (JD Pardo), o jovem vítima de bullying Peter Moore (Joel Courtney) e a mãe de uma menina pequena, Erin Calder (Sofia Black-D'Elia). Depois do embate, e sem o saberem, estas cinco pessoas ganham poderes, como a previsão do futuro, a cura ou uma força sobre-humana. Eles são os escolhidos d’O Homem.
“Esta é uma série que fala sobre a moralidade, que acaba por questionar a nossa perspectiva do bem e do mal, das coisas, da vida. Há uma frase que eu digo no primeiro episódio que eu acho que ilustra muito bem toda a história: ‘Se tivesses oportunidade de matar um assassino em série, fá-lo-ias? Sabendo que se não o matasses agora ele iria matar mais dez ou 20 pessoas? Fá-lo-ias?’”
A resposta está do lado dos cinco escolhidos. “A humanidade está a ser testada através das encruzilhadas e das opções que estes cinco mensageiros vão ter no futuro”, conta o actor português. “É como se fosse um teste, e eles vão ser postos à prova em variadíssimas situações. O meu personagem acaba por ser o indivíduo que manipula e tenta fazer com que eles falhem esse teste o mais possível”, continua, deixando claro que “esta não é a história do Apocalipse como o último capítulo da Bíblia anuncia”. “Isto é uma adaptação livre, completamente fantasiosa, daquilo que será o fim dos dias.”
"Um jogo constante"
“A razão pela qual o meu personagem se chama O Homem é precisamente porque ele não pode interferir com nenhum poder sobrenatural, ao contrário dos mensageiros – eles sim, possuem poderes e habilidades extraordinárias. Não pode fazer absolutamente nada a não ser utilizar os recursos humanos”, diz Diogo Morgado, contando que quando lhe foi atribuído este papel quis perceber que tipo de vilão seria no ecrã. “Não queria uma coisa meia boneco, isso não teria muito interesse”, explica. “Para mim o que tem interesse é que todas as situações, tudo aquilo que o meu personagem faz, qualquer pessoa mal-intencionada neste mundo pode fazer”, conta. “É um retrato, para mim, do lado mais negro da humanidade, o lado mais escuro, mais retorcido, mais assustador e sinistro”, acrescenta ainda o actor, para quem fazer este personagem é um trabalho "muito cerebral. “Jesus era essencialmente focar-me no sentimento de altruísmo, de amor incondicional, da importância que é partilhar uma mensagem. Neste personagem é absolutamente o oposto. A mensagem é absolutamente camuflada com mentiras, com falsidades. É um jogo constante”, aponta.
Diogo Morgado diz já ter recebido várias críticas positivas ao seu trabalho. Quanto à série, para já a imprensa norte-americana divide-se. No The Wrap, lê-se que The Messengers é um cruzamento entre Heroes e Sobrenatural com o potencial de se tornar na sensação do canal CW, enquanto a Variety destaca que a história ainda não ganhou asas para se destacar. A estreia ficou também aquém. “As audiências não foram brilhantes, mas também tem muito a ver com o facto de estarmos a uma sexta-feira. Nos Estados Unidos, a sexta-feira é um dia muito forte, em que há muitos programas fortes nos canais concorrentes”, explica o actor, revelando que a equipa da série já esperava que assim fosse. No dia da estreia, a série foi vista por 1,18 milhões de telespectadores. Em 2013, o primeiro episódio de A Bíblia foi visto por 13,1 milhões de pessoas.
“Eu vejo mais por este lado: se a CW apostou nesta série a uma sexta-feira é porque tem esperança de que a série consiga ser forte num dia de televisão como é a sexta-feira nos Estados Unidos”, destaca Diogo Morgado, confiante de que The Messengers virá a ter uma segunda temporada. “Há factores a ter em causa, claro. Sinceramente, tenho muita expectativa em relação a saber se isto vai ter uma segunda temporada, mas tenho quase a certeza de que sim. Seria estranho se uma estação como a CW não renovasse a série.”