Oito reclusos hospitalizados por intoxicação com "tranquilizante de cavalo"
Ao final do dia, permaneciam nos cuidados intensivos, do Hospital Amato Lusitano, com “prognóstico muito reservado”
O alerta soou às 13h25, segundo esclareceu o Comando Distrital de Operações de Socorro. À prisão acorreram o corpo local de bombeiros, agentes da PSP e uma equipa de emergência médica. O cenário inspirava grande cuidado. Primeiro, cinco reclusos inconscientes numa cela. Depois, outros três, na mesma ala.
Os homens, com idades compreendidas entre os 24 e os 53 anos, foram de imediato conduzidos para o Hospital Amato Lusitano. Ao final do dia, permaneciam nos cuidados intensivos, com “prognóstico muito reservado”, segundo o presidente do conselho de administração, Vieira Pires.
A Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais informou que os oito reclusos "apresentavam sinais de doença súbita, resultado do consumo de uma substância ilícita, presumivelmente 'cetamina'". Esta informação não foi, porém, confirmada por Vieira Pires. “A Direcção-Geral terá dados que nós não temos. As análises seguiram para a Medicina Legal”, esclareceu.
Ao que o PÚBLICO apurou, durante as visitas desta manhã, alguém terá conseguido entrar com uma porção daquela substância, também designada por K, Special K, Super K, Vitamina K, e passá-la a um recluso, que a terá passado a outros sete, que com ele partilhavam a cela ou, pelo menos, a ala.
A confusão seria grande durante a manhã. Os guardas prisionais fizeram greve nos dias 23, 24 e 25. O Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional já tinha convocado igual protesto para os dias 16, 17, e 18, exigindo a aplicação do estatuto profissional, que entrou em vigor há mais de um ano e que inclui regulamentação do horário de trabalho, progressões nas carreiras, aprovação dos novos níveis remuneratórios e pagamento do subsídio de turno para quem faz noites.
Conforme diversas vezes teve ocasião de explicar o presidente do sindicato, Jorge Alves, a greve tem afectado as visitas aos reclusos, o transporte não urgente para tribunais e hospitais e o tempo de recreio. A maior afluência verificada no EP de Castelo Branco e noutros não foi, pois, uma surpresa.
A cetamina pode ser inalada, fumada (se misturada com tabaco) ou injectada num músculo (se misturada com um líquido não alcoólico). Ao que tudo indica, os reclusos misturaram-na com água.
Inventada em 1965 pelos laboratórios Parke & Davis, esta substância foi utilizada na Guerra Colonial. Hoje, é mais usada por veterinários, sobretudo, para anestesiar cavalos. Em pequenas doses, também o é por médicos, por exemplo, no parto, quando se faz episiotomia.
Segundo o Observatório das Drogas e da Toxicodependência, as primeiras referências ao consumo recreativo remetem para meados da década de 90. E são cada vez mais os problemas de saúde associados a essa e a outras substâncias psicoactivas com propriedades alucinogénias, anestésicas e sedativas.
O conhecido psiquiatra Luís Patrício tem lidado com alguns consumidores problemáticos. “Os doentes referiram as alterações do pensamento e da percepção da realidade como o sofrimento não desejado que motivou o pedido de ajuda”, diz.
Novas substâncias têm entrado no mercado das drogas legais, tentando tomar o lugar de drogas já controladas. Só no ano passado foram notificadas mais de cem. Entre as drogas em avaliação estava uma nova substância sintética considerada muito perigosa, a AH-7921, sucedânea da cetamina.