Tesos mas protegidos
Como a vida é curta, divertida e complicada de mais para gastar tempo precioso a fazer contas simples e entediantes, todos os meses — sem querer nem saber — gasto mais dinheiro do que o que tenho.
O resultado é receber, na segunda quinzena de cada mês, mails hipócritas dos meus fornecedores a balir que, "não sabem porquê, não conseguiram cobrar-me as módicas quantias que pediram pelos produtos e serviços que, mais por pecado do que por virtude de não serem pagos, vão desde já suspender ou não mandar".
Este mês foi a Tidal — o excelente serviço de streaming hi-fi — que me escreveu. Ao contrário dos rivais mencionou directamente a hipótese, sempre certa, da falta de fundos: de dinheiro no cartão de crédito.
Dizem que me vão dar mais uns dias para pagar. É simpático. A Spotify faz o mesmo mas é preciso escrever-lhes a pedir desculpa. A conclusão é que ambos os serviços compreendem as atribulações financeiras da vida quotidiana.
Ambas cobram um mês por um mês de música e ambas deixam atrasar um bocadinho os pagamentos. Não oferecem nenhuma ajuda financeira. Mas oferecem compreensão humana e inteligência. Nem uma nem outra vendem produtos materiais que custam dinheiro a mandar pelos correios.
Vendem acessos a uma reserva musical que já existe. Só falta compreenderem que nada se perde em falhar um mês ou dois. Não há edições que se percam, como nas assinaturas de revistas e jornais...