Novo livro levanta mais suspeitas sobre financiamento da Fundação Clinton

Autor de Clinton Cash e jornais americanos deixam implícito que os anos de Hillary na Secretaria de Estado foram menos transparentes do que se julga.

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Clinton anunciou a corrida à Casa Branca na semana passada NICHOLAS KAMM/AFP

A poucos dias da publicação de mais um livro sobre o assunto, os mais respeitados jornais e estações de televisão dos EUA começaram a lançar uma série de notícias que deixam implícitas duas acusações – que Hillary Clinton se aproveitou do cargo de secretária de Estado para recompensar quem ajudou as causas humanitárias da fundação, e que os fundos recolhidos por Bill Clinton serviram também para engordar a conta bancária do casal.

O livro Clinton Cash vai ser posto à venda no dia 5 de Maio e foi escrito por Peter Schweizer, um colunista do site conservador Breitbart News com um longo passado de ligações ao Partido Republicano – fez parte da equipa que redigia os discursos do antigo Presidente George W. Bush; presidiu ao Hoover Institution, um think tank frequentemente associado aos republicanos; e dirige a organização conservadora Government Accountability Institute.

Este rasto de ligações ao Partido Republicano é apontado por Hillary como a prova de que o objectivo do livro de Peter Schweizer é contribuir para uma teoria da conspiração contra os Clinton, que ressurgiria no momento em que a antiga secretária de Estado formalizou a sua candidatura à presidência dos EUA.

Mas o facto de o autor ter trabalhado em conjunto com jornalistas de investigação de jornais como o The New York Times e The Washington Post indica que Hillary Clinton poderá enfrentar mais dificuldades para negar as acusações com base no argumento de que tudo não passa de uma cabala. Peter Schweizer enviou o manuscrito ou partes do manuscrito a vários repórteres para que eles pudessem verificar a credibilidade das suas próprias investigações.

Uma delas – a que o The New York Times teve nesta quinta-feira em grande destaque no seu site – refere-se à compra de uma empresa de extracção de urânio a operar nos EUA pela agência de energia atómica da Rússia, a Rosatom.

O caso remonta a 2005, quando o empresário canadiano Frank Giustra fechou um lucrativo negócio no Cazaquistão para a sua empresa UrAsia, “dias depois de ter visitado o país com o antigo Presidente Bill Clinton”, escreve o The New York Times.

A viagem de Giustra e Clinton já tinha sido notícia em Janeiro de 2008, no mesmo jornal, no auge da campanha para as primárias do Partido Democrata que Hillary Clinton acabaria por perder para Barack Obama. Nessa altura, ficou implícita a acusação de que a viagem de Bill Clinton – e o seu apoio à candidatura do Cazaquistão à liderança da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, que viria a tornar-se realidade em 2010 – foi fundamental para o sucesso empresarial de Frank Giustra, que acabou por assegurar importantes participações em três projectos de extracção de urânio detidos pelo Estado cazaque.

"Poucos meses depois de o acordo no Cazaquistão ter sido finalizado", escreveu o The New York Times em Janeiro de 2008, "a Fundação de Clinton recebeu o seu próprio prémio: uma doação de 31,3 milhões de dólares de Giustra que foi mantida em segredo até que ele admitiu a sua existência, no mês passado."

A razão oficial da visita de Bill Clinton foi um negócio para a venda de medicamentos contra o HIV ao país, a um preço reduzido, mas o facto de Hillary Clinton ter criticado publicamente o regime do Cazaquistão em várias ocasiões contribuiu para que as acusações de falta de transparência ganhassem ainda mais fôlego.

Em 2007, a UrAsia fundiu-se com a sul-africana Uranium One e lançou uma mega-operação nos EUA, com o objectivo de se tornar "num gigante do sector do urânio do país" – em 2013, a Uranium One controlava um quinto da capacidade de produção de urânio nos EUA.

O envolvimento do nome de Hillary Clinton surge precisamente em 2013, quando ainda era secretária de Estado. Meses antes de ter saído da Administração Obama, Hillary foi uma das responsáveis norte-americanas a autorizarem a venda da Uranium One à russa Rosatom, o que na prática significa que a Rússia detém hoje em dia um quinto da capacidade de extracção de urânio dos EUA.

Nada nas informações reveladas pelos media norte-americanos nos últimos dias prova que Bill e Hillary Clinton tenham de facto aproveitado as suas posições para financiar a fundação e enriquecer pessoalmente, enquanto recompensavam os doadores com declarações de apoio ou decisões políticas – a venda da Uranium One à russa Rosatom ocorreu antes do agravamento das relações entre os EUA e a Rússia, e teve a aprovação unânime de várias agências norte-americanas e, em última análise, do próprio Presidente Obama –, mas as facas já estão afiadas e o Partido Republicano vai aproveitar cada frase do livro Clinton Cash para encostar Hillary à parede na corrida à Casa Branca.

Mais do que os factos, é a imagem da candidata que está em causa, como nota o The New York Times: "Não se sabe se as doações tiveram algum papel na aprovação do acordo sobre o urânio. Mas o caso sublinha os particulares desafios éticos da Fundação Clinton, liderada por um antigo Presidente que contou com muito dinheiro estrangeiro para acumular 250 milhões de dólares em activos mesmo quando a sua mulher estava a ajudar a conduzir a política externa americana como secretária de Estado, tomando decisões potencialmente benéficas para os doadores da fundação."

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