Grécia lança primeira ofensiva sobre o “triângulo do pecado” que controla o país
O dono da maior empresa de construção do país foi detido por fuga aos impostos e branqueamento de capitais.
Não durou muitas horas a detenção de Bobolas, que acabou por pagar 1,8 milhões de euros – o valor da sua dívida ao fisco e que ele se havia recusado a saldar no dia anterior, de acordo com a imprensa grega. No entanto, sobre este proprietário de um dos maiores grupos económicos gregos pendem graves acusações.
O filho de Georges Bobolas, um dos maiores oligarcas gregos, é acusado de ter feito sair do país cerca de quatro milhões de euros e é um dos quase dois mil nomes na chamada “Lista Lagarde”. O documento, tornado público em 2012, identifica 1991 cidadãos gregos suspeitos de terem dívidas avultadas ao fisco, que escondiam com contas em bancos suíços, e chegou às mãos da directora-geral do FMI em 2010, quando era ministra das Finanças francesa. Fotis, o irmão de Georges, também consta da lista.
A investigação a Bobolas não abrange apenas a “Lista Lagarde”, mas também outros movimentos suspeitos de capitais para instituições estrangeiras, o que na totalidade deverá alcançar cerca de quatro milhões de euros, segundo o jornal To Vima.
O caso movido pelas autoridades gregas contra Bobolas tem um cariz inédito, por tocar na elite económica que controla empresas em áreas estratégicas, como a construção, a energia ou os meios de comunicação. É a primeira vez que o membro de uma das 50 famílias mais poderosas da Grécia é envolvido num caso judicial, diz o Le Monde.
Leonidas Bobolas é presidente executivo da Ellaktor, a maior construtora do país, responsável por muitas obras públicas, fruto das relações privilegiadas com os sucessivos governos. A família Bobolas é dona de um império mediático, através do jornal diário Ethnos e da Mega, a maior cadeia televisiva privada do país e cuja linha editorial é bastante crítica do actual Governo grego, liderado pelo partido de esquerda radical Syriza. Os media controlados pelos Bobolas foram acusados de terem uma cobertura parcial do processo de privatização das minas de ouro de Cassandra, em 2003, nas quais um grupo pertencente à família tem uma participação.
A braços com as duras negociações com os credores internacionais – Atenas tem dois pagamentos de mais de 900 milhões de euros ao FMI que vencem em Maio –, o executivo tem tentado recolher fundos em várias frentes. Esta semana foi anunciada uma ordem que obriga as entidades administrativas a cederem os excedentes orçamentais ao banco central, que mereceu a oposição imediata das autarquias. O Governo estima que poderá reunir cerca de 2,5 mil milhões de euros com estas transferências.
A luta contra a fraude fiscal é outra das fontes onde o Governo liderado por Alexis Tsipras pretende recolher o dinheiro para fazer face às suas obrigações. Por outro lado, é também um dos pilares do programa com o qual o Syriza foi eleito em Janeiro. Tsipras teceu fortes críticas à inoperância dos sucessivos governos do PASOK e do Nova Democracia em atacar o poder dos grupos económicos que representam aquilo a que chegou a chamar “triângulo do pecado”. “Na Grécia, o verdadeiro poder está com os donos dos bancos, os membros do sistema político corrupto e os meios de comunicação corruptos.”