Filmes e concertos levam mais rock ao Porto
O Teatro Rivoli, em parceria com o Centro Comercial Stop, vai apresentar uma programação em que o rock é o protagonista.
A ideia partiu de Zé Pedro, dos Xutos & Pontapés, que, em conversa Paulo Cunha e Silva, abordou alguns dos filmes sobre músicos que tinha visto. “Temos de fazer um ciclo sobre esses documentários”, foi a reacção do vereador, na altura.
O vago passou a concreto e, a partir de terça-feira, o Teatro Rivoli, em parceria com o Centro Comercial Stop, vai apresentar uma programação em que o rock é o protagonista. São quatro os documentários que Zé Pedro seleccionou. De terça a sexta-feira, por 2,5€, há um filme por noite. Todos os dias a partir das 21h30, à excepção de terça-feira. Aí começa a ser transmitido às 22h para as pessoas “não terem de optar entre o rock e o futebol”, brinca Tiago Guedes, director do Teatro Municipal do Porto, referindo-se ao jogo entre o Futebol Clube do Porto e o Bayern Munique.
Na terça-feira, The Rise and Fall of The Clash aborda a queda de uma banda em topo de carreira. É revelada uma perspectiva “nunca antes contada” do colapso daquela que Zé Pedro considera “a banda número um mundial”.
Pearl Jam Twenty chega na quarta-feira e trata do grande boom do movimento grunge. O guitarrista dos Xutos & Pontapés realça o respeito mútuo que é preciso existir para o bom funcionamento de uma banda visto que a “interajuda no grupo” é indispensável e muito presente neste documentário.
Na quinta-feira, Foo Fighters Back and Forth tem os holofotes direccionados para Dave Grohl, o fundador da banda. Neste trabalho, salientam-se as necessidades e desafios que o músico enfrentou depois da “saída dos Nirvana e de começar um projecto paralelo na procura da banda ideal”, relata Zé Pedro.
Shut up and Play the Hits é o último documentário a ser transmitido, na sexta-feira. Os LCD Soundsystem acabaram a sua carreira num último concerto em Madison Square Garden em 2011. O filme relata a “ressaca criativa”, como lhe chama Zé Pedro, do músico James Murphy depois de “de um dia para o outro ficar sem banda”.
Promovem-se ainda encontros entre pessoas relacionadas com a música e os mais jovens. Tanto Zé Pedro como Pedro Nascimento, agente dos Holy Nothing, vão conversar com estudantes do ensino secundário sobre temas do rock.
É durante as comemorações do 25 de Abril, no sábado, que acontece “um dos momentos altos da programação” – A Liberdade do Som, anuncia Tiago Guedes. Pelas 21h30, o teatro recebe vários músicos, nomeadamente Manel Cruz, que interpretam temas originais e algumas versões dos Ornatos Violeta, Táxi ou GNR. Antes disso, durante a tarde, apresenta-se Stop Don’t Stop, um filme de Ana Branco que relata o quotidiano do antigo centro comercial que foi convertido em várias salas de ensaio.
Manel Cruz, ex-Ornatos Violeta e músico no Stop, explica que o espaço de ensaios tem um “espírito de liberdade e mudança”. A transição que fez com que o Stop deixasse de ser associado a “mitos negativos” e tivesse passado agora para o “fascínio pelo nascimento espontâneo de cultura” deve-se à perseverança de todos os que lá trabalham, esclarece. No entanto, ainda falta muito para que o centro se transforme no sítio ideal. “Os artistas não podem hastear a bandeira do trabalho sem receber nada em troca”, explica Manel Cruz, “temos usado materiais como carpetes, espumas, caixas de ovos” para isolar as salas e minimizar os problemas. Paulo Cunha Silva admite que olha o espaço com “atenção e curiosidade” e que a autarquia está a tentar dar maior visibilidade ao espaço: “Estarmos aqui, não em campanha eleitoral, é significativo”, reitera.
“É preciso haver mais apoio entre os próprios músicos” independentemente do género musical, alertou Zé Pedro. A ideia da “azeitisse” tem de ser desmistificada e o “respeito pela música no geral” estimulado, com as bandas lado a lado a observar e a aprender. “Dave Grohl [dos Foo Fighters] chegou a admitir-me que a banda ouvia ABBA”, exemplifica o guitarrista.
Com o Foco Rock passa a ser possível “ter noção da história dos músicos que consideramos intocáveis”, explica Zé Pedro, considerando muito importantes que iniciativas como esta se continuem a repetir. Para o músico, para já, não é possível transmitir trabalhos sobre bandas portuguesas porque “Portugal não tem indústria de música” nem há quem invista. No entanto, no futuro, se este género de acções continuar, não descarta que “até possam haver documentários sobre os Xutos & Pontapés”.
Notícia editada por Ana Fernandes