A crise da Finlândia domina as eleições
“A próxima Grécia”, em recessão e com empregos a desaparecer, prepara-se para mudar de Governo.
Uma recessão que dura há três anos foi piorada por vários factores – as empresas de papel estão a sofrer com a menor procura por causa das novas tecnologias; a Nokia, empresa que já foi um gigante no seu segmento, foi ultrapassada; e finalmente, vários sectores dependentes da Rússia – exportação de lacticínios, turismo em cidades de fronteira – foram drasticamente cortados por causa da desvalorização do rublo e das sanções europeias impostas a Moscovo na sequência da guerra na Ucrânia.
O editor de política europeia do Financial Times Tony Barber chama ao país o “novo doente da Europa”. Na campanha, a oposição dramatiza esta ideia: “A Finlândia pode ser a próxima Grécia”, avisou Juha Sipilla, actualmente líder da oposição e que poderá vir a ser o próximo primeiro-ministro.
É uma ironia que a Finlândia, que sempre defendeu medidas de austeridades nos países em dificuldades, se encontre agora numa posição em que há consenso na necessidade de reformas – mas ideias muito diferentes de como as levar a cabo.
O primeiro-ministro é o conservador Alex Stubb, 47 anos, da Coligação Nacional, que em Junho sucedeu a Jyrki Katainen quando este aceitou ser um dos vice-presidentes de Jean Claude Juncker na Comissão Europeia. Poliglota e praticante de desporto, Stubb impressionou os finlandeses mas a lua-de-mel foi curta, dizem analistas. O falhanço de reformas, especialmente a reforma dos serviços sociais e de saúde que era a sua bandeira, foi fulcral para o piorar da imagem.
O actual Executivo conta com os sociais-democratas, o partido da minoria sueca e os democratas-cristãos, tendo perdido desde 2011 o partido de esquerda e os Verdes, os primeiros por causa da política económica e os segundos por causa de uma instalação nuclear.
Empresário de sucesso
Quando 4,5 milhões de eleitores vão escolher 200 deputados do Parlamento, Eduskunta – 1,3 milhões já o tinham feito por voto antecipado – espera-se a vitória do renovado partido do Centro, de raiz agrária. O seu líder, o milionário Juha Sipilla, 53 anos, é novo na política e aposta na ideia de que um empresário de sucesso poderá ter êxito na gestão da economia do país. Prometeu criar 200 mil empregos em dez anos.
O seu partido tem entre 23 e 25% das intenções de voto, seguindo-se com valores semelhantes os conservadores de Stubb (17%), o partido eurocéptico Finlandeses (16%), e os sociais-democratas (15%). No entanto, 39% dos inquiridos nestas sondagens diziam estar ainda indecisos.
Na Finlândia há uma tradição de consenso e de governos alargados, e antecipa-se que as negociações pós eleitorais possam levar semanas. “É claro já há algum tempo que o Centro vai ser o maior partido”, disse Erkka Raiolo, analista na Universidade de Turku, à agência Reuters. “Mas qualquer um dos outros três [Coligação Nacional, Sociais-Democratas ou Os Finlandeses] podem ser os segundos, e a votação deixa abertas várias possibilidades de coligação”, nota. O que quer dizer que “as conversações para Governo vão ser difíceis e vão demorar”.
Ameaça russa
A campanha foi dominada pela economia com uma breve incursão pela questão russa e um pequeno debate sobre uma possível adesão à Aliança Atlântica.
A Finlândia já tinha dado um passo ao assinar este mês, junto com outros países nórdicos (Suécia, Noruega, Dinamarca e Islândia), uma declaração mencionando um “desafio” russo para justificar uma maior cooperação com a NATO. Moscovo reagiu mostrando “preocupação” e a oposição, que se espera que vença as eleições, criticou a posição do actual Governo.
Não é só a Ucrânia que leva a esta preocupação na Finlândia: há rumores de compra de terrenos por russos perto de instalações militares e na fronteira, e houve um aumento de sobrevoos de aviões militares russos com os sistemas de localização desligados em vários países sobretudo escandinavos.
A Finlândia esteve duas vezes em guerra com a Rússia (1939 e 1944), e perdeu parte substancial de território como consequência. A par da Suécia, nunca aderiu à NATO, mas tem-se afastado de uma posição de neutralidade cuidadosamente cultivada durante muito tempo. Esta mudança levou a que o antigo presidente e Nobel da Paz Martti Ahtisaari declarasse o seu apoio a uma eventual adesão à NATO.
“É inédito ligar explicitamente uma cooperação de defesa nórdica à ameaça russa”, comentou Anna Wieslander, vice-directora do Instituto Sueco de Política Externa. “Claramente diz: ‘nós contra a Rússia’”.