As grandes formações e a intemporalidade como fio condutor do Jazz em Agosto

A Fire! Orchestra de Mats Gustaffson e Wadada Leo Smith a apresentar The Great Lake Suites são destaques do festival que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian entre 31 de Julho e 9 de Agosto.

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A Fire! Orchestra de Mats Gustafsson actua na abertura do festival e é um dos destaques da programação Micke Keysendal
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Wadada Leo Smith vem à Gulbenkian apresentar o seu último álbum The Great Lake Suites Scott Goller

O saxofonista sueco apresentar-se-á com a sua Fire! Orchestra de 19 elementos, grande destaque na programação (concerto de abertura do festival, dia 31 de Julho, às 21h30, hora de início de todos os concertos), e com uma homenagem ao jazz sueco das décadas de 1950 e 1960 a que, muito apropriadamente, chamou Mats Gustaffson’s Swedish Jazz (2 de Agosto).

A programação foi apresentada à imprensa na manhã desta terça-feira, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. “O que prevalece na programação deste ano é a presença das grandes formações. E depois essa questão da intemporalidade”, disse ao PÚBLICO, no final conferência de imprensa, Rui Neves, programador do Jazz em Agosto. Tal escolha programática, digamos, não surgiu de uma intenção prévia. Só depois de organizar uma programação que, como é ambição desde a primeira edição do festival, tenta representar o mais “significativo” no cenário contemporâneo, “é que surgem tais ligações”. Olhando para os nomes em cartaz, percebe-se que não foi difícil estabelecê-las.

Em 1968, o trompetista austríaco Michael Mantler, acompanhado por uma equipa sublime onde se incluíam Carla Bley, Don Cherry, Pharaoh Sanders ou Cecil Tayler, gravou o álbum Jazz Composer’s Orchestra. Quatro décadas e meia depois, voltou ao mesmo material para, com a Nouvelle Cuisine Band, criar o álbum The Jazz Composer’s Orchestra Update e surpreendeu-se. Conta Rui Neves que terá exclamado: “Não está tão datado quanto isso”. Por manter a sua vitalidade, a música de 1968 passará agora para outras mãos, as da Orquestra Jazz de Matosinhos (1 de Agosto). “É um desafio e uma forma de valorizar a própria orquestra”, comenta o programador.

Quando se deparou com o trabalho de Lok 03, ou seja os pianistas Alexander von Slippenbach e Aki Takase e o DJ illvibe, e a improvisação que criam sobre as imagens de Berlim: Sinfonia de uma Capital, o histórico filme vanguardista de Walter Ruttman, influência decisiva para, por exemplo, Douro, Faina Fluvial, de Manoel de Oliveira, Rui Neves sentiu o mesmo que Mantler perante a sua música de 1968. Que o filme de 1927, reunido à música dinâmica e convulsiva daquele trio, que ouviremos dia 6 de Agosto, nada tinha de anacrónico. O presente está ainda ali. “O que interessa compreender é que o futuro, sendo especulativo, tem um passado. Que o presente tem um passado”, comenta.

Além dos nomes já referidos, o Jazz Em Agosto conta com o encontro do RED Trio de Rodrigo Pinheiro (piano), Hernâni Faustino (contrabaixo) e Gabriel Ferrandini (bateria) com o saxofonista inglês John Butcher (5 de Agosto), com os Young Mother’s que o contrabaixista norueguês Ingebrigt Håker-Flaten juntou quando se mudou há seis anos para Austin, Texas (7 de Agosto), e com a francesa Orchestre National de Jazz, dirigida pelo guitarrista Olivier Benoît, que iniciou em 2014 o projecto de retratar musicalmente várias cidades europeias – começaram por Paris e apresentarão no dia de encerramento do Jazz em Agosto, 9 de Agosto, a sua segunda peça, dedicada a Berlim.

Os grandes destaques do festival pertencerão, porém, a Mats Gustaffson e a Wadada Leo Smith. O trompetista, um dos grandes nomes da improvisação jazz dos últimos 50 anos, fará no Anfiteatro ao Ar Livre da Gulbenkian, dia 8 de Agosto, a estreia europeia com o seu novo quarteto de The Great Lake Suites – com ele, estará o saxofonista Henry Threadgill, que há cinco décadas partilhou com Wadada a passagem pela Association for the Advancement of Creative Musicians, fundada em Chicago, que se tornaria uma importante incubadora de linguagens de vanguarda e por onde passaram, ao longo do tempo, nomes como Anthony Braxton, Roscoe Mitchell ou Matana Roberts.

De Gustaffson, Rui Neves diz com um sorriso, comentando a sua presença assídua no festival, que é um músico “muito prolífico, sempre a fazer novas formações”. Não se surpreende, então, que surja em dose dupla na programação de 2015.

A Fire! Orchestra promete ser um destaque absoluto: Gustaffson expandiu os seus Fire! a 19 elementos, entre os quais Neves destaca as vocalistas Mariam Wallentin e Sofia Jernberg, e o poder avassalador do trio original ganha uma nova dimensão com os diversos bateristas e baixistas, com as vocalistas, a dezena de sopros ou a guitarra eléctrica.

Quanto a Mats Gustafsson’s Swedish Jazz, é um trabalho de arqueologia e transformação. O quinteto dedica-se a explorar as décadas de 1950 e 1960 do seu país. Influenciado pelo bebop da Costa Oeste americana, mas abrindo-se à contaminação pelas tradições musicais locais, foi a génese do jazz que nasceria a partir de então na Suécia. Os Swedish Jazz são, em 2015, novo jogo de contaminações. Entre um passado fundador e um presente em desenvolvimento, e entre linguagens que se aproximam – neste Swedish Jazz criado por Gustaffson o saxofone, a tuba de Per-Ake Holmlander, o vibrafone de Kjell Nordeson e a bateria de Erik Carlsson convivem com a electrónica de Dieb 13 (2 de Agosto).

Os bilhetes para o Jazz em Agosto podem ser comprados nas bilheteiras da Fundação Calouste Gulbenkian, ou no seu sítio online, em musica.gulbenkian.pt/jazz. Têm o preço de 20 euros para os concertos da Fire! Orchestra e de Wadada Leo Smith, e de 12 euros para os do RED Trio e do Lok 03. Para os restantes concertos, a entrada custa 15 euros.

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