Mais de 60% dos animais do canil do Porto são adoptados, mas nem sempre são salvos

O presidente da Câmara do Porto diz que muitos destes animais voltam a ser abandonados, quando chega o período de férias.

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A Câmara do Porto não autorizou que fossem captadas imagens no interior do canil, umas instalações que já têm mais de 80 anos Nelson Garrido

O estado do canil e a forma como os animais abandonados serão tratados no Porto chegou à reunião do executivo camarário da passada terça-feira pela mão do vereador da CDU, Pedro Carvalho, que pela segunda vez em menos de um mês tentou ver aprovada uma recomendação sobre o “bem-estar animal”. O documento já fora apresentado na reunião de 24 de Março, mas seria retirado, depois de o vereador do Ambiente, Filipe Araújo, se comprometer a levar ao executivo um conjunto de informações sobre o “plano de controlo e bem-estar da população de cães e gatos” que o município tem em marcha.

Esta semana, o vereador admitiu aos colegas de vereação que as instalações do canil, com mais de 80 anos, “estão desadequadas face à legislação em vigor” e que faz parte dos planos da autarquia construir um centro de recolha oficial, mas Filipe Araújo salientou também que já foram introduzidas melhorias e que é necessário, também, intervir sobre o comportamento de quem tem um animal ou quem adopta um. “Há uma elevada taxa de abandono na cidade, uma detenção pouco responsável e uma proliferação de gatos em colónias”, afirmou o vereador do Ambiente. A marcar as suas palavras estavam os números que ia passando num ecrã, dando conta que, em 2014, o canil municipal recolheu das ruas do Porto 1182 cães e 1035 gatos vivos. No mesmo ano, chegaram ao canil 1134 cães e 1369 gatos já mortos.

“Os números de animais abandonados na cidade são impressionantes”, disse Rui Moreira, depois de ouvir a exposição do seu vereador. O autarca salientou também que a taxa de adopção era “excepcional”, mas não se mostrou tranquilo quanto ao futuro desses animais. “As pessoas adoptam e esquecem-se que vão ter férias. Mas, em Julho e Julho, vão de férias e soltam o animal na rua. Depois, em Setembro, vão adoptar outro”, resumiu o presidente da câmara, defendendo: “Temos de ver a forma como tratamos as pessoas que adoptam animais”.

O autarca salientou também a aparente irresponsabilidade dos donos de animais, que ignoram a legislação em vigor, pondo em risco a segurança de bens e pessoas. “Costumo passear no Parque da Cidade e cerca de metade dos cães que lá estão andam à solta, o que é proibido. Eles andam a correr atrás dos pássaros, dos patos, e até de crianças”, disse Rui Moreira, revelando que, há poucos dias, uma criança sua conhecida foi mordida por um desses animais. “A principal responsabilidade é dos donos”, concluiu.

Parte da resposta poderá passar por uma das medidas que Filipe Araújo pretende implementar, mas que ainda não tem data, e que é dar formação às pessoas que tentam adoptar um animal no canil. Contudo, conforme demonstraram os dados que o vereador apresentou na reunião do executivo, esta medida só poderá ser implementada quando o futuro centro de recolha estiver concluído e não há ainda uma previsão de quando isso será, apesar de o vereador indicar 2017 como a data desejável.

A proposta que a CDU levou para a reunião e que defendia, entre outros pontos, a criação de um centro de recolha, a concretização de uma campanha de esterilização e a coordenação, em rede, de centros de recolha a nível metropolitano, acabou por ser chumbada. Rui Moreira justificou o voto contra da coligação que suporta a maioria – composta pelos independentes da sua lista e pelos vereadores do PS – com o facto de a recomendação da CDU sugerir a implementação de medidas que já estavam em curso. Por outro lado, disse, alguns dos pontos da proposta eram difíceis de pôr em prática.

Rui Moreira frisou que a esterilização já era praticada no canil, mas que a sua aplicação estava longe de ser consensual. “Há grupos de defesa dos animais que entendem que isso é um crime contra o bem-estar do animal”, disse o autarca. Igualmente difícil é a conciliação de posições a nível metropolitano. “Seria muito conveniente encontrar uma estratégia metropolitana, mas os municípios, neste caso, pretendem sempre alijar a responsabilidade para os municípios vizinhos. É uma questão muito difícil. O ideal seria ter um centro de recolha metropolitano, mas ninguém o quer ter à porta”, vincou o presidente da câmara.

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