Tesouro grego vai sobrevivendo com a ajuda dos bancos
Grécia emitiu mais 1100 milhões de euros de dívida nos mercados. Os bancos do país fizeram a maior parte do empréstimo.
Esta quinta-feira, a Grécia tem de pagar 448 milhões de euros ao FMI e até ao final do mês há salários e pensões a pagar dentro do Estado. Duas tarefas difíceis para um Estado que tem visto as receitas fiscais a caírem em conjunto com a economia e que já não recebe qualquer novo empréstimo dos seus credores oficiais desde Agosto do ano passado.
Para já, Yanis Varoufakis garantiu que o pagamento ao Fundo será feito a tempo e horas e deu a entender que o Tesouro grego tem fundos suficientes nas suas mãos para suportar uma extensão das negociações com o Eurogrupo até pelo menos o próximo dia 24 de Abril. Mas muitos nos mercados interrogam-se: com uma tesouraria a trabalhar no limite não se corre o risco de ocorrência de um acidente, que lance o pânico nos mercados e entre os depositantes dos bancos gregos, tornando a situação ainda mais difícil?
Isso não impediu contudo que esta quarta-feira a Grécia conseguisse ir ao mercado buscar mais 1138 milhões de euros, através da emissão de títulos de dívida a seis meses. E que o fizesse com o mesmo nível de procura (1,3 vezes o montante oferecido) e o mesmo nível de taxas de juro (2,97%) registado na última emissão semelhante, realizada em Março.
Os sinais de stresse são ainda assim mais do que evidentes. As taxas de juro estão estáveis, mas estão a um nível assustadoramente alto. Para se ter uma ideia, neste momento a Grécia apenas consegue obter empréstimos a seis meses a uma taxa de juro que é o dobro da exigida a Portugal por um empréstimo a 10 anos.
Depois, mais do que nunca, o Estado grego está totalmente dependente de investidores gregos, muitos deles eles próprios dependentes do financiamento do Estado, para garantir os seus empréstimos. De acordo com a Reuters, entre os investidores estrangeiros que tinham dívida pública grega a seis meses nas suas mãos, vários não quiseram renovar o seu empréstimo com esta emissão. Foram menos 350 milhões de euros que tiveram de ser compensados por investidores gregos.
Entre estes, os mais importantes são sem dúvida os bancos. O problema aqui é evidente. As instituições financeiras gregas, com muitos depósitos a fugir, obtêm o seu próprio financiamento através de empréstimos do BCE, que por sua vez exige que os bancos apresentem garantias. À falta de melhor, o que os bancos têm feito é emitir obrigações garantidas pelo Estado grego, que os próprios depois compram e entregam como colateral ao BCE.
Se um banco entra em falência, o Estado suporta a perda. E se o Estado entra em falência, os bancos caem. É por isso que o Banco Central Europeu já disse aos bancos gregos para não aumentarem a sua exposição ao sector público, algo que retira qualquer possibilidade de Atenas pensar em fazer mais emissões do que aquelas que substituem as que entretanto vão atingindo a maturidade.
O próximo desafio está agendado para o dia 15 de Abril, data em que uma emissão de 1000 milhões de euros a três meses tem de ser amortizada.