Câmara de Abrantes alerta para peixes mortos devido a baixo caudal do Tejo
"Fomos alertados para uma situação de peixes mortos dentro da escada ‘passa peixe’ do açude de Abrantes, e com muitos peixes ainda vivos mas presos naquela estrutura, devido à falta de água no rio. Salvámos uns milhares de peixes, mas uma tonelada teve de ser retirada pelos bombeiros", disse à agência Lusa o vereador do Ambiente na Câmara de Abrantes, Manuel Valamatos.
A situação ocorreu na sexta-feira, e, segundo o autarca, “deve ter existido uma descarga acentuada de água por parte de uma barragem, que fez com que a água entrasse na escada ‘passa peixe’, seguido de um abaixamento repentino, o que levou a que os peixes ficassem ali reféns e sem água, acabando por morrer".
"O caudal do rio tem apresentado sempre pouca água, mas hoje em dia mais parece uma ribeira. Tenho 50 anos de vida e não me lembro de ver o rio tão baixo e de assistir a uma situação destas. É uma situação muito preocupante e, por este andar, qualquer dia não temos rio", alertou Manuel Valamatos.
No local estiveram elementos da protecção civil, a GNR, os bombeiros e o veterinário municipal, que recolheu amostras de água e alguns exemplares de peixes mortos para efectuar análises.
Também os autarcas da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) têm manifestado a sua "preocupação" com as "grandes variações diárias" dos níveis do caudal do rio, situação que, apontam, "resulta dos transvases do Tejo para o sul de Espanha".
Em declarações à agência Lusa, o secretário executivo da CIMT, Miguel Pombeiro, destacou, como causa para as variações do volume de água no Tejo, "a gestão dos caudais em função das necessidades de produção de energia pelas grandes barragens espanholas", junto à fronteira com Portugal.
"Este é um problema que subsiste há muitos anos, mas temos sempre sido surpreendidos com notícias de novos transvazes do rio Tejo do lado espanhol, pelo que o que importa, e entendemos como absolutamente vital, continuar a alertar e a reivindicar junto das autoridades nacionais o caudal necessário para o sustento dos caudais ambientais em Portugal", vincou.
O Movimento pelo Tejo - ProTejo, com sede em Vila Nova da Barquinha, defendeu hoje a revisão da Convenção de Albufeira, documento que regula as águas do Tejo entre Espanha e Portugal, no sentido de aumentar o caudal mínimo anual, "actualmente insuficiente".
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz do ProTejo, Paulo Constantino, disse que o caudal mínimo anual é actualmente insuficiente para garantir a preservação dos ecossistemas aquáticos e a utilização dos equipamentos de turismo e lazer pelas populações ribeirinhas, defendendo a revisão da Convenção de Albufeira, no sentido de "assegurar a aproximação dos caudais semanais e trimestrais ao caudal anual e, assim, garantir uma maior regularidade dos caudais" do Tejo.
Variação que, no entender de Paulo Constantino, "resulta dos transvases do Tejo, para o sul de Espanha, e de uma gestão dos caudais em função das necessidades de produção de energia pelas grandes barragens espanholas" junto à fronteira com Portugal.