Iranianos celebram acordo nuclear nas ruas, mas a parte difícil ainda não acabou
Enquanto os pormenores do entendimento estão a ser redigidos, Obama e Rohani terão de vender o entendimento à linha dura dos seus países.
O ministro dos Negócios Estrangeiros Javad Zarif, que fez o doutoramento na Universidade de Denver, nos Estados Unidos, e conta entre os seus amigos o vice-Presidente norte-americano Joe Biden e o ex-secretário da Defensa Chuck Hagel, foi recebido como um herói ao regressar neste sábado a Teerão, relata a Reuters.
Mas os desafios diplomáticos ainda não acabaram. O Presidente norte-americano tem ainda de convencer o Congresso e também Israel e a Arábia Saudita, os países rivais do Irão no plano regional, de que este é um bom acordo.
Até 30 de Junho, é preciso redigir os termos precisos do texto – os pormenores que os negociadores decidiram deixar de fora, por agora, para desimpedir o caminho a um compromisso preliminar para uma redução significativa da actividade nuclear do Irão, bem como da supervisão internacional do seu programa e inspecção das suas instalações. Em troca, oferecem, o levantamento das sanções económicas impostas a Teerão pela comunidade internacional.
O Presidente iraniano, Hasan Rohani, também terá de vender o acordo à linha aos cépticos da linha mais dura do regime. O religioso de 66 anos defende uma linha moderada – “a moderação não significa que nos desviamos dos princípios e não é igual a conservadorismo face à mudança e ao desenvolvimento”, afirmou. A sua popularidade aumenta com este sucesso político que permite a reaproximação aos Estados Unidos e à comunidade internacional, o que lhe deve dar o capital político necessário para enfrentar as figuras mais conservadoras do regime, que bloqueiam as suas promessas de reformas políticas e sociais na República Islâmica, escreve a Reuters.
Vídeos e fotografias colocados online mostram filas de carros a apitar, com passageiros a bater palmas e a comemorar, logo depois de os negociadores terem anunciado na Suíça que tinha havido acordo, relata o New York Times. Num vídeo colocado no Facebook, vê-se um grupo de iranianas a bater palmas e a dizer “Obrigada, Rohani”.
“Viu-se uma reacção muito positiva nas ruas do Irão, e percebe-se que é real, não foi fabricada”, comentou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius. “As pessoas, os jovens, estão à espera que as coisas mudem, e isso é de assinalar”, sublinhou.
Já em Israel, o acordo foi recebido com o cepticismo que seria de esperar pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que se tem multiplicado em declarações contra os esforços diplomáticos em curso para controlar o nuclear iraniano. Convocou para esta sexta-feira o conselho ministerial de segurança, e deverá fazer a seguir uma declaração oficial.
Mark Regev, o seu porta-voz, já deu a entender a opinião de Israel: “A alternativa a este acordo-quadro, que é um mau acordo, seria um acordo que desmantelasse de forma significativa as infra-estruturas nucleares militares do Irão, que exigisse ao Irão uma mudança de comportamento, que cessasse as agressões na região, que parasse de apoiar o terrorismo no mundo inteiro, e que deixasse de fazer apelos repetidos à destruição de Israel”, afirmou.