Huthis controlam o centro da estratégica cidade de Áden

Fontes do Governo deposto do Iémen desmentem que tenha começado invasão da coligação liderada pela Arábia Saudita. Confrontos já fizeram pelo menos 44 mortos.

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Habitantes de Áden em fuga da cidade SALEH AL-OBEIDI/AFP
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Apoiantes dos huthis no bairro de Khor Maksar, em Áden SALEH AL-OBEIDI/AFP

A aliança de conveniência do líder autocrata que os países vizinhos forçaram a deixar o poder, após protestos populares no ano das Primaveras Árabes, com as milícias huthis, tribo que antes sempre marginalizou, permitiu aos rebeldes conquistar uma enorme porção do território, de Norte a Sul, apesar dos bombardeamentos da coligação liderada pela Arábia Saudita.

Pouco território do Iémen restará sob controlo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, que era vice de Saleh e foi escolhido para lhe suceder, e hoje está refugiado na Arábia Saudita, depois e ter sido deposto quando os huthis tomaram o poder em Sanaa, em Janeiro. Áden era o seu bastião eleitoral, e foi para lá que fugiu inicialmente, em meados de Fevereiro, quando conseguiu escapar à prisão domiciliária em que tinha sido colocada. Agora, está refugiado na Arábia Saudita, que na semana passada começou a bombardear vários alvos no Iémen, formando uma coligação internacional com dez outros países muçulmanos.

A ofensiva dos huthis sobre o centro de Áden começou na quarta-feira e marcou o maior avanço dos rebeldes em território governamental. Chegaram com tanques e carrinhas de caixa aberta com metralhadoras montadas e, apesar dos bombardeamentos e violentos combates, tomaram o palácio presidencial Al-Maachiq, relata a AFP. É também na zona de Crater que fica a dependência do Banco central do Iémen e a zona comercial da cidade, diz o jornal The Guardian. A embaixada russa foi assaltada e há pelo menos 44 mortos.

Desembarque-mistério
De manhã, houve um desembarque de tropas não identificadas que causou um enorme alarme – testemunhas e autoridades portuárias deram o alarme, reproduzido pela agência Reuters, de que se poderia estar perante o início da invasão terrestre das forças árabes. Desde o início que a Arábia Saudita deixou essa ameaça no ar, avisando que mobilizou 150 mil homens que estariam protos a avançar para dentro do Iémen se tal fosse considerado necessário.

Mas uma fonte do Governo do Presidente Abd-Rabbu Mansour Hadi, refugiado em Riad, assegura que não foi dada ordem de invasão. O embaixador da Arábia Saudita nas Nações Unidas fez um desmentido que teve um travo de revelação de outra notícia: disse que não há tropas “formais” do seu país no terreno em Áden, mas que continua em aberto a possibilidade de haver. “O tema de vir a usar forças terrestres é algo que está sobre a mesa”, disse o embaixador Adel al-Jubeir em Washington, interrogado pela Reuters.

A identidade das forças que desembarcaram em Áden nesta quinta-feira é um mistério que perdura. A televisão russa Russia Today dizia que podiam tratar-se de forças chinesas, que garantiam a segurança dos seus cidadãos que fugiam de Áden. Mas um conselheiro saudita disse à AFP que se trataria de um pequeno destacamento de forças leais a Saleh. “Posso garantir que os elementos que desembarcaram em Áden não eram forças especiais sauditas”, afirmou esta fonte não identificada.

Áden é um importante ponto estratégico – fica na ponta Sul do Iémen e perto do estreito de Bab-el-Mandab, por onde passa 40% do comércio marítimo mundial e 30% do petróleo transportado por esta via. Mas as forças pró-Presidente Hadi estão desorganizadas nesta cidade, disse este conselheiro saudita. Por isso os huthis e seus aliados conseguiram apoderar-se do centro, notou.

O objectivo da Arábia Saudita ao intervir no país vizinho contra os huthis é uma questão de geoestratégia regional: enquanto xiitas, os huthis são aliados do Irão, ou até apoiados por Teerão – não há provas concretas disso. E Riad, que se considera a nação líder do islão sunita, tudo fará para contrariar o crescimento da influência do Irão xiita, em especial num momento em que parece desenhar-se o fim do isolamento internacional do país dos ayatollahs, com o princípio de um acordo sobre o nuclear iraniano, obtido em Lausanne nesta quinta-feira.
 

   

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