Cinema paraíso

Ettore Scola evoca Federico Fellini num objecto sincero e curioso, misto de documentário reconstituído e livro de memórias.

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A redacção do jornal humorístico Marc’Aurelio, onde Fellini e Scola deram os primeiros passos artísticos com alguns anos de intervalo, é o ponto de partida para uma fantasia nostálgica, semi-ensaística, sobre os anos de ouro do cinema italiano e a complexa teia de amizades e relações entre quem o fez. Aqui se evocam nomes que se cruzaram precisamente na redacção do jornal, como o realizador Steno ou os argumentistas Ruggero Maccari, Agenore Incrocci e Furio Scarpelli, mas também actores como Marcello Mastroianni, Alberto Sordi ou Giulietta Masina, pelo meio de uma narrativa fluida construída ao sabor das memórias e intercalada por imagens de arquivo. 

É verdade que Que Estranho Chamar-se Federico tem qualquer coisa de “volta de honra” que quase exige desconto às evidentes fraquezas do filme - Scola tinha 81 anos aquando da rodagem e havia dez anos que não filmava – e que o final tem um aroma inconfundível de Cinema Paraíso, fazendo pelo cinema de Fellini o que Giuseppe Tornatore fez por toda uma geração de cinéfilos. Mas a nostalgia deste passado perdido, contado por quem o viveu, é mais pragmática e inevitável do que calculada ou gratuita. E essa sinceridade dá a este objecto curioso, espécie de “coda” de duas carreiras brilhantes, uma gravidade inescapável e um capital de simpatia irresistível.

 

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