Sequestradores de procurador turco foram mortos pela polícia
O Procurador que investiga a morte do jovem que se tornou símbolo de resistência a Erdogan ficou gravemente ferido.
As fotografias publicadas pelo grupo de extrema-esquerda - denominado Frente Partidária de Libertação do Povo Revolucionário (DHKP/C, na sigla em turco), - durante o sequestro mostravam o procurador Selim Kiraz com uma arma apontada à cabeça. O magistrado foi retirado do edifício pela polícia durante a operação, adianta a versão em inglês do jornal turco Hürriyet.
Por volta das 19h, as autoridades turcas tomaram de assalto o gabinete de Selim Kiraz. A AFP e a Reuters avançaram que foram ouvidos vários tiros e sons de explosões vindos do tribunal. Imediatamente a seguir, as ambulâncias que participavam no cerco ao edifício aceleraram para o local.
"Negociámos durante seis horas. Mas avançamos depois de ouvirmos tiros no interior do tribunal", justificou o chefe da polícia de Istambul, citado pelo Hürriyet.
Os sequestradores entraram no tribunal de Istambul durante a manhã desta terça-feira e ocuparam o gabinete do procurador. Testemunhas disseram à Reuters que ouviram três disparos depois de “um homem de cabelo preto vestido de fato” ter entrado armado no gabinete de Selim Kiraz. Esse será o mesmo que se vê apontando uma pistola à cabeça do procurador nas fotografias publicadas num site associado ao DHKP/C.
Mehmet Selim Kiraz está encarregado da investigação sobre a morte de Berkin Elvan, o jovem de 15 anos que morreu em Março de 2014 e que se tornou num símbolo de luta contra o Governo de Recep Erdogan, na altura primeiro-ministro e actualmente Presidente da Turquia. Berkin Elvan passou nove meses em coma depois de ter sido atingido na cabeça por uma granada de gás lacrimogéneo lançada pela polícia durante os protestos anti-governamentais de Junho de 2013. Elvan saíra de casa para comprar pão quando foi atingido.
Os membros do DHKP/C que fizeram Selim Kiraz refém publicaram online uma lista de exigências. Entre elas estava a de que o polícia que dizem ser o responsável pela morte de Berkin Elvan confesse o crime e que os membros das autoridades envolvidos no caso fossem julgados por um tribunal popular. O DHKP/C exigia também que se retirassem as acusações contra os manifestantes que protestaram contra o Governo de Erdogan durante o funeral de Berkin Elvan.
O grupo afirmava que executaria Kiraz caso as exigências não fossem atendidas até às 11h36 (hora portuguesa). A hora-limite foi largamente ultrapassada, mas as autoridades turcas prosseguiram com negociações até por volta das 19h. “Estamos a tentar resolver esta questão sem que ninguém saia magoado”, disse Selami Altunok, chefe da polícia de Istambul, enquanto o sequestro prosseguia.
O tribunal, que entretanto fora evacuado, esteve cercado pelas autoridades turcas. De acordo com a CNN Türk (sem qualquer ligação com o canal norte-americano), citada pela edição em inglês do Hürriyet, as forças especiais estariam já preparar uma operação para "terminar a crise" ao início da tarde em Portugal. Uma notícia dada antes de o vice-primeiro-ministro turco ter lançado uma ordem para "banir temporariamente" as emissões televisivas sobre o sequestro. De acordo com o Hürriyet, este tipo de ordem já foi lançada mais de 150 vezes ao longo de quatro anos.
O DHKP/C é considerado um grupo terrorista pela União Europeia, Estados Unidos e pela própria Turquia. O grupo foi criado em 1978 como um partido político de inspiração marxista-leninista, que rompia então com o apelidado grupo Caminho Revolucionário (Dev-Yol). O DHKP/C surgiu inicialmente com o nome Dev-Sol, de acordo com a BBC, antes de mudar de nome em 1994.
O grupo é frequentemente associado com actos terroristas, como, por exemplo, ataques suicidas. O último aconteceu a 7 de Janeiro no exterior de uma estação policial em Istambul. Uma bombista suicida matou um polícia e deixou outro ferido. Tal como o sequestro desta terça-feira, o grupo afirmou que o ataque foi levado a cabo como resposta à morte de Berkin Elvan.
O pai de Berkin Elvan surgiu nesta terça-feira nas redes sociais a condenar o sequestro do procurador turco: "Queremos justiça. Não queremos que ninguém jorre uma gota de sangue sequer. Não queremos que outras mães chorem", disse Sami Elvan no Twitter.