Primeiro-ministro reconhece que jovens foram dos mais penalizados pela crise

Passos Coelho fez discurso de confiança numa geração “qualificada” e “empreendedora” no Dia do Estudante. Em Braga e em Coimbra, houve protestos contra os cortes no ensino superior

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Apesar de alguns protestos, Pedro Passos Coelho deixou mensagem optimista em Braga Maria João Gala

Ainda que tenha reconhecido as consequências da crise sobre os mais novos e a "muito elevada" taxa de desemprego nos jovens, Passos lembrou que Portugal não teve “um problema tão dramático” como outros em termos acesso ao mercado de trabalho, referindo os casos de Espanha e da Grécia. E foi também com uma referência indirecta ao caso grego, que começou a construir a mensagem de esperança com que se dirigiu à plateia que o recebeu no espaço GNRation em Braga no Dia Nacional do Estudante. “Se conseguimos até hoje equilibrar-nos enquanto país numa situação tão difícil e instável – tanto que há outros que ainda não o ultrapassaram – o que não conseguimos fazer com melhores condições no futuro próximo?”, questionou.

O primeiro-ministro defendeu que o país precisa de “dar mais intensidade” à recuperação do emprego por parte dos jovens e mostrou-se convicto de que estes terão melhores oportunidades no mercado de trabalho “à medida que a economia se for normalizando”. Passos Coelho vê mesmo os jovens como fundamentais para a recuperação económica do país: sem esquecer que são necessárias finanças sólidas, Portugal precisa de “ambição” e de trazer inovação à economia. E é isso que o chefe de Governo espera que seja capaz de fazer uma nova geração “em média, mais qualificada” do que aquela a que pertence, mas também “mais ambiciosa” e “empreendedora”.

Na sessão desta terça-feira, em Braga, o Governo apresentou o Livro Branco da Juventude, que terá uma edição digital no sítio da internet do Instituto Português do Desporto e Juventude. O documento foi desenvolvido ao longo dos últimos três anos, partindo da auscultação das organizações juvenis e deu origem a uma resolução do Conselho de Ministros, aprovada em 2013, com 14 orientações estratégicas para as políticas de juventude. Pedro Passos Coelho valorizou a metodologia participativa que deu origem à publicação. “O Governo não definiu de cima para baixo. Este foi um processo inclusivo”, sublinhou, destacando a “disponibilidade” do executivo de manter o diálogo com o sector.

Compromissos e protestos
O primeiro-ministro aproveitou a presença em Braga para assinalar o Dia Nacional do Estudante almoçando com os dirigentes de 13 associações académicas e de estudantes. Entre as universidades públicas, a única ausência foi a da Associação Académica de Coimbra (AAC), tendo ainda estado presentes as federações que representam os estudantes dos politécnicos públicos e do ensino superior privado.

Do encontro, saiu um compromisso do executivo de que na revisão em curso do regulamento de acção social passará a haver um dia fixo em cada mês para o pagamento das bolsas de estudo, de modo a evitar atrasos nos pagamentos que provocam dificuldades aos alunos.

Os estudantes do sector politécnico aproveitaram para voltar a fazer ver a sua oposição à proposta recentemente apresentada pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, onde é defendida a revisão do modelo de acesso ao ensino superior, diferenciando a entrada nos politécnicos de uma forma que, na prática, esvazia da sua actual preponderância os exames nacionais. De acordo com o presidente Federação de Associações de Estudantes dos Institutos Superiores Politécnicos, Daniel Monteiro, a proposta foi classificada pelo secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, como “má”. “Ficamos, por isso, à espera que a mesma seja recusada pelo Governo”, afirma aquele dirigente.

O Dia do Estudante não foi apenas de concórdia entre Governo e jovens. À chegada à Braga, Passos Coelho tinha um pequeno grupo de universitários a recebê-lo em protesto. E em Coimbra, a AAC, que já tinha anunciado a sua ausência do almoço de Braga, protestou contra os cortes no financiamento do ensino superior, com um cordão humano que juntou cerca de 400 alunos, de mãos atadas, em frente da sede da associação, que foi coberta por panos negros.

"É com orgulho que recusámos o almoço", frisou o presidente da AAC, Bruno Matias, defendendo que a associação que lidera "nunca vai ficar sozinha, enquanto tiver os 30 mil estudantes de Coimbra a lutarem juntos". 

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