Quando o racismo dos outros fica entalado na garganta
Vídeo do Centro para os Direitos Humanos da Lituânia quer alertar para abusos que cidadãos de outras raças sofrem no país.
O vídeo é uma experiência social. Um grupo de lituanos vai a um casting, separadamente, e a cada um deles é pedido para aguardar num sofá, onde já se encontra um jovem negro que alegadamente também vai ao casting. De sublinhar que não há nenhum casting. É apenas um pretexto para realizar a experiência.
A cada uma das pessoas que se vai sentando no sofá, incluindo uma criança, o jovem estende o seu tablet e pede para lhe traduzirem para inglês uma mensagem publicada no seu Facebook, em lituano. Diz não conseguir perceber o que está escrito, que não conhece a pessoa que escreveu o post e que está na Lituânia há apenas duas semanas.
Nos minutos que se seguem, e quase sem variações, surgem as reacções de cada uma das pessoas a quem é pedido o favor. O constrangimento e desconforto por algo que não escreveram são esmagadores. Alguns ficam emocionados com a violência das palavras, que incluem ameaças físicas. Praticamente todos se recusam a traduzir o texto, dizendo ao homem que não conseguem repetir o que leram.
Um dos lituanos pede mesmo desculpa por alguém do seu país ter escrito uma mensagem com aquele teor. “Não vou lhe vou traduzir isto. É muito humilhante”, diz uma das mulheres. Após alguma insistência do homem, alguns acabam por ler a mensagem. Saem algumas palavras como “macaco”, “escravo” e “volta para África”.
A directora do Centro para os Direitos Humanos da Lituânia, Birute Sabatauskaite, explica ao site DELFI que o objectivo do vídeo é alertar para os abusos que muitas pessoas vivem no país devido à sua raça, etnia, religião ou orientação sexual. Segundo a responsável, apesar de haver pessoas que não contribuem para discriminação estas nada fazem para combater o problema. “O objectivo do vídeo é encorajar-nos a todos a não sermos indiferentes ao abuso e ao ódio que muitas pessoas sofrem diariamente, enquanto falhamos em vê-lo e denunciá-lo”, disse Birute Sabatauskaite.
A directora explica que apesar da vida na Lituânia estar a melhorar, ainda existem casos de pessoas no país que “vivem experiências homofóbicas, racistas, de abuso, todos os dias”. “A nossa meta não é apenas dizer às pessoas que reajam mas também dar-lhes alguns conselhos”, concluiu a responsável.
Esta segunda-feira, o vídeo já tinha sido visualizado mais de 850 mil vezes.