Lançar “um tapete de bombas” não resolve os problemas do Iraque

Numa visita a Bagdad, o principal chefe militar dos EUA avisa que não basta derrotar os jihadistas no terreno, é preciso impedir que ao fazê-lo se crie uma nova geração de radicais.

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O general Martin E. Dempsey com o general francês, Pierre de Villiers, a bordo do porta-aviões Charles de Gaulle AFP

Do ponto de vista puramente militar, a coligação tem obviamente vantagem, “no ar, no terreno e no mar” e “o conflito podia ser concluído num futuro previsível, razoável”. “Mas este conflito vai exigir paciência estratégica”, diz Dempsey. “Os problemas que alimentam esta guerra, e que devem ser resolvidos, são os que estão ligados à governação, à política de inclusão [da população árabe sunita] que o Governo iraquiano tem de enfrentar.”

A visita de Dempsey coincide com a segunda semana da primeira grande ofensiva lançada pelos iraquianos contra os extremistas que o ano passado conquistaram importantes cidades e vastas áreas de território no país. O alvo agora é Tikrit, cidade no coração do país sunita, 160 quilómetros a norte de Bagdad e na estrada que liga a capital a Mossul, a segunda maior cidade do país, onde em Junho de 2014 os radicais entraram com uma facilidade impensável, enquanto as forças de segurança iraquianas se eclipsavam.

O estado das forças de segurança é um dos problemas deste conflito, e é tanto militar como político. Na batalha por Tikrit participam militares iraquianos e muitas milícias, a esmagadora maioria xiitas (e apoiadas pelo Irão), algumas também sunitas, formadas por tribos das zonas atacadas, num total de 23 mil homens. A coligação internacional ficou de fora.

No terreno, é importante que estas vitórias sejam atribuídas ao Governo – o problema é que este não pode fazê-lo sem milicianos que têm sido acusados de represálias contra as populações sunitas. Quando anunciou a ofensiva para recuperar Tikrit, o primeiro-ministro, Haider al-Abadi, exigiu das forças governamentais que tivessem como “prioridade máxima” a protecção dos civis.

Muitas das tropas iraquianas continuam pouco preparadas. Esse é o problema militar. “Neste momento não precisamos de mais conselheiros” no Iraque, defende Dempsey. São 2600 os militares norte-americanos no país, com tarefas de aconselhamento e treino. “Temos pessoas à espera que algumas unidades iraquianas apareçam e quando aparecem – um punhado delas – surgem com pouca solidez e sem o equipamento adequado.”

Tal como Bagdad, diz o chefe militar dos EUA, a coligação internacional tem “a responsabilidade de ser muito precisa no uso do poder aéreo” e para isso precisa de confiar na informação que recebe sobre os alvos.

Os extremistas nunca teriam avançado tão depressa no Iraque se as populações sunitas não estivessem elas próprias fartas de ser alvo de políticas que as marginalizam, detenções arbitrárias e muitas vezes ataques justificados em nome da “luta contra o terrorismo” que mais não eram do que tentativas para calar opositores ao poder xiita que substituiu Saddam Hussein.

Assim, Dempsey não antecipa um aumento do número de bombardeamentos. “Para conceber o ritmo desta campanha, devemos assegurar-nos que todos os esforços, militares, económico, os esforços financeiros internacionais, convergem”, explica. Não basta ao Governo conquistar cidades, tem de conseguir depois estabilizá-las e oferecer às populações serviços básicos que em algumas zonas nunca foram repostos desde 2003.

Tudo isto leva tempo. Para além disso, sublinha o general, “é preciso garantir que uma nova geração [de combatentes] não está a ponto de nascer, obrigando-nos a recomeçar o trabalho”.

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