"Panelaço" no Brasil contra Dilma

Protestos em várias cidades no Brasil à hora da primeira declaração de Dilma Rousseff no seu segundo mandato. Presidente passa por período de contestação.

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A popularidade de Dilma Rousseff tem sofrido com o escândalo na Petrobras Ueslei Marcelio/Reuters

À hora de início do discurso da Presidente do Brasil, várias cidades reagiram com protestos, buzinas e “panelaço”. O jornal brasileiro Folha de São Paulo fala de manifestações em pelo menos 12 capitais do país. O Globo diz que os protestos se concentraram sobretudo em três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina.

A Presidente do Brasil atravessa um período de forte contestação. Três meses apenas de novo Governo – tomou posse para o segundo mandato a 1 de Janeiro – e Dilma tem dois duros obstáculos para ultrapassar.

Por um lado, a aprovação de medidas de austeridade num país que a tem conseguido evitar desde o início da crise de 2008 e que contraria promessas da campanha eleitoral feitas em Outubro. Por outro, a missão de evitar implicações directas no escândalo de corrupção na Petrobras.

Dilma Rousseff não tem tido sucesso em ambas as frentes. O contestado pacote de ajuste fiscal tem esbarrado no Congresso e na compreensão da população. Já o caso de corrupção na Petrobras implica quatro dos seus ex-ministros e investigará uma suspeita de financiamento ilegal da sua campanha presidencial em 2010.

Ao longo do seu discurso, Dilma Rousseff centrou-se nos temas económicos. Sobre o caso da Petrobras, já no final da declaração, Dilma disse apenas que o Brasil tem aprendido a aplicar “duramente a mão da Justiça contra os corruptos”. “É isso que vem acontecendo na apuração ampla, livre e rigorosa nos episódios lamentáveis contra a Petrobras”, afirmou na noite de domingo. E, sobre o caso, mais não disse.

Incompreensão, diz Dilma
A Presidente do Brasil queixa-se de críticas injustas ao seu executivo. Injustas, afirmou no domingo, porque não compreendem as suas políticas.

É que, de acordo com Dilma Rousseff, os críticos do Governo estão a empolar a dimensão negativa das suas medidas – [o país] “nem de longe está vivendo uma crise nas dimensões que dizem alguns” –, e os media não têm sido capazes de explicar devidamente os planos do executivo – “os noticiários são úteis, mas nem sempre são suficientes; muitas vezes até nos confundem mais do que nos esclarecem”.

Em 15 minutos de discurso, a Presidente do Brasil assegurou várias vezes que o esforço de austeridade será temporário e que deixará de lado “as classes trabalhadoras, as classes médias e os sectores mais vulneráveis”. “Queremos e sabemos como fazer isso, distribuindo os esforços de maneira justa”, disse Dilma, que apontou desta maneira à base eleitoral do PT. 

O apelidado “ajuste fiscal” cortará à volta de 18 mil milhões de reais na despesa do Estado (cerca de 5462 milhões de euros), o que afectará quatro ministérios da área social. Para além do mais, o executivo planeia cortar subsídios de desemprego e abonos, assim como apoios ao pagamento de salários (as “desonerações”).

Estes temas foram atacados por Dilma: “Começámos cortando os gastos do Governo sem afectar fortemente os investimentos prioritários e os programas sociais. Revisámos certas distorções em alguns benefícios”.

Se o Governo PT conseguiu evitar o caminho da austeridade desde o início da crise de 2008 – e Dilma referiu várias vezes que, ao contrário de grandes potências mundiais, a economia e o emprego cresceram no país ao longo dos últimos seis anos – foi porque o Governo aguentou o impacto da recessão.

Mas agora, as circunstâncias mudaram. “Absorvemos a carga negativa até onde podíamos e agora temos de dividir parte deste esforço com todos os sectores da sociedade”, disse Dilma.

Marcha contra Dilma

Os protestos da noite de domingo podem ser um exemplo do que acontecerá no dia 15 de Março, data para a qual está marcada uma jornada de protesto nacional contra o Governo PT de Dilma Rousseff. Estão agendados protestos em mais de 200 cidades no Brasil.

De acordo com o Folha de São Paulo, existem três principais movimentos de cidadãos: dois de inspiração económica-liberal e um terceiro que apela a uma intervenção militar para depor o executivo, “Os Legalistas”, com menos apoiantes mas que tem ganho força ao cabo das últimas manifestações.

Os movimentos “Vem Prà Rua” e “MBL – Movimento Brasil Livre” partilham a mesma visão económica neoliberal, mas apelam a duas fatias diferentes da população.

O movimento dos “Vem Prà Rua” é sobretudo composto por empresários e, nas eleições de Outubro, foi frequentemente associado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), de Aécio Neves. Este é o movimento mais moderado: não pede a exoneração da Presidente do Brasil – diz que não existe base jurídica para isso – e diz que protesta também para que o caso de corrupção na Petrobras não seja esquecido.

O grupo MBL apela a um segmento mais jovem da população. Em declarações ao Folha de São Paulo, um dos líderes, Renan Santos, explica as diferenças: “Os caras do 'Vem Prà Rua' são mais velhos, mais ricos e têm o PSDB por trás”. 

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