Níger e Chade lançam ofensiva contra radicais na Nigéria

A primeira operação de forças regionais em grande escala do Nordeste do país começa um dia depois de o líder do Boko Haram ter formalizado a sua lealdade ao Estado Islâmico.

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Funeral na sexta-feira: 38 soldados dos Camarões morreram em confrontos com o Boko Haram Reinnier Kaze/AFP

Foi em Janeiro que a União Africana começou a discutir uma intervenção regional para combater o Boko Haram, que na altura já tinha atacado vários países fronteiriços e anunciado a intenção de os desestabilizar.

O Governo nigeriano hesitou durante muito tempo em pedir ou aceitar ajuda – receando ser visto como fraco – mas acabou por se convencer que precisa de apoio externo contra uma insurreição que já fez mais de 13 mil mortos. O mês passado, adiou as eleições por seis semanas (as presidenciais estão agora marcadas para 28 de Março, as legislativas para 11 de Abril), com a presidência a prometer “desmantelar todos os campos conhecidos do grupo” neste período.

Tropas chadianas já tinham nas últimas semanas atacado células do grupo a partir dos Camarões, no Sudeste da Nigéria, mas esta é a primeira vez que entram no país pelo Nordeste, vindas do Níger. É também a primeira vez que as forças nigerinas atacam o Boko Haram dentro da Nigéria. Na sexta-feira, a União Africana apoiou por fim a criação de uma força regional de dez mil membros e mandato para “impedir a propagação das actividades do Boko Haram e de outros grupos terroristas”. Para além da Nigéria, do Chade e do Níger, os Camarões (que já enfrentam também o grupo na sua fronteira) e o Benim comprometeram-se com o envio de tropas.

“Era muito cedo de manhã quando tropas nigerinas e chadianas desencadearam uma ofensiva contra o Boko Haram em duas frentes, na zona de Bosso e perto de Diffa”, duas cidades do Níger que receberam milhares de refugiados nigerianos em fuga dos avanços do grupo no estado de Borno, disse à AFP um responsável do Governo da Nigéria, confirmando relatos de testemunhas ouvidas pela BBC ou pela Al-Jazira.

A rádio privada Anfani, de Diffa, contou “mais de 200 veículos” militares a dirigirem-se para a fronteira, outros falam em 300 ou 500, incluindo tanques, blindados equipados com metralhadoras e camiões de transporte. Aviões bombardearam igualmente posições islamistas junto ao rio Yobé, que delimita uma parte da fronteira entre o Níger e a Nigéria. O objectivo inicial será Damasak, uma cidade de Borno conquistada pelo Boko Haram em Outubro do ano passado.

Nos últimos dias, o Boko Haram tem reunido tropas no seu feudo de Gwoza, onde deverá estar a tentar preparar-se para se defender da força regional, enquanto continua a conseguir montar atentados suicidas. Sábado, pelo menos 58 pessoas foram mortas e 139 ficaram feridas em três explosões em diferentes zonas de Maiduguri, capital do estado de Borno que os islamistas querem como capital do seu próprio estado.

As autoridades nigerianas desvalorizaram a declaração de lealdade ao Estado Islâmico, considerando-a uma prova de fraqueza de um grupo que se vê cada vez mais acossado. Os analistas interpretam esta declaração com as notícias que dão conta de vários grupos que operam na Líbia e que se juntaram aos jihadistas da Síria e do Iraque – é da Líbia que virão grande parte das armas e munições do Boko Haram.
 

   





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